Wednesday, January 10, 2018

Função logística- histórico III

O crescimento de uma população pequena com muitos recursos é exponencial. No entanto, se os recursos são limitados, a taxa de crescimento começa a diminuir em algum momento. Essa população só poderá alcançar tamanho compatível com a quantidade de recursos e com o ambiente de que dispõe. Chega, assim, a um nível de saturação.
Colocados em gráfico, os dados de crescimento formam uma curva em forma de S (sigmoide) e mostram tendência à estabilização (a curva é assintótica). É nesse aspecto gráfico que o uso da função logística em geral se baseia – muito mais do que na equação diferencial definida em postagem anterior.

Roos e Von Szeliski (1) ajustaram a função logística para o crescimento da demanda de automóveis nos Estados Unidos da América. Os autores argumentaram que, em determinado período de tempo, o aumento da população de automóveis é dado pelo número potencial de compradores multiplicado pela probabilidade de que um indivíduo, selecionado ao acaso nesse grupo, venha a adquirir um automóvel.
Os autores partiram do pressuposto de que tal probabilidade é proporcional ao número de automóveis já comprados, uma vez que este número está diretamente relacionado com o conhecimento sobre o produto por parte dos possíveis compradores e com o desenvolvimento do sistema de distribuição e de atividades complementares. Então, para determinado intervalo de tempo tem-se que  
em que C é número de proprietários de automóveis, M é o número máximo de proprietários de automóveis e A1 e M dependem de fatores econômicos. Este é um modelo logístico, desde que as condições se mantenham constantes.
           Bain (2) ajustou a função logística para explicar o aumento do número de proprietários de aparelhos de televisão no Reino Unido, usando a mesma argumentação de Roos e Von Szeliski (1). No entanto, os resultados obtidos não foram satisfatórios, de acordo com o próprio autor. No ano seguinte, discutindo a demanda de novos bens de consumo, Bain (3) considerou a função logística inadequada para descrever o crescimento da demanda.
Segundo esse autor, como a função logística exige considerar que o número de pessoas adquirindo o novo bem é proporcional ao número de pessoas que já têm esse bem, multiplicado pelo número de pessoas que podem vir a ter esse bem, o modelo é simplista. As pessoas vivem em grupos sociais, onde as proporções podem ser muito diferentes.
Ainda segundo Bain (3), a função logística é inadequada para descrever o crescimento da demanda porque exige pressupor que a influência que qualquer proprietário possa ter sobre um comprador em potencial é a mesma durante todo o processo e igual para todas as pessoas. No entanto, novos bens de consumo são adquiridos mais rapidamente pelas pessoas de mias alta renda.
Baseado nesses argumentos, Bain (3) considerou injustificável ajustar um modelo simétrico ao crescimento da demanda de novos bens de consumo. Utilizou, então, um modelo baseado na lognormal acumulada, que considerou intuitivamente plausível.

       Referências
1.    Roos, C. F. e Von Szeliski, V.. Factors governing changes in domestic automobile demand.  The Dynamics of Automobile Demand. (General Motors Corporation, New York, 1939). Proceedings of the Conference on Consumption and Saving. https://books.google.com.br/books
2.    Bain, A. D. Reviewed Work (by Edwin Mansfield): The Growth of Television Ownership in the United Kingdom since the War.The Economic Journal, Vol. 75, No. 298. (Jun., 1965), pp. 414-415.
                        3.  Bain, A. D. The growth of demand for new                                       commodities. J. Royal Stat. Soc.,A.  Londres, 126:285-                           99,1963. 


                 Continuaremos a discorrer sobre a função logística em outras postagens. Veja:
Vieira, S. Estudo de funções assintótico sigmoides. Unicamp. Tese de livre docência. 1975.

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