Pesquisa é uma
forma de investigação. Não é possível fazer pesquisa sem que haja um problema
para resolver ou uma pergunta para responder. Toda pesquisa é feita para
ampliar o conhecimento, qualquer que seja a área de trabalho do pesquisador.
Mas existem riscos e incertezas. O pesquisador precisa buscar evidências que
apoiem sua argumentação para a solução do problema ou para a resposta à
pergunta. Para chegar à evidência, um pesquisador precisa de dados.
Método de pesquisa é a técnica usada para a coleta de
dados, ou seja, é a estratégia usada pelo pesquisador para coletar as
informações que precisa para resolver seu problema ou para responder a sua
pergunta. Mas quais são os métodos de pesquisa?
Em linhas gerais, uma pesquisa pode ser feita segundo dois métodos,
sendo então identificadas como:
a) Pesquisa
qualitativa
b) Pesquisa
quantitativa.
A pesquisa qualitativa tem o objetivo de entender o comportamento
das pessoas, suas opiniões, seus conhecimentos, suas atitudes, suas crenças,
seus medos. Está, portanto, relacionada ao significado que as pessoas atribuem
às suas experiências do mundo e ao modo como entendem o mundo em que
vivemos. O pesquisador da área qualitativa levanta dados por meio de
entrevistas, grupos de discussão, observação direta, análise de documentos e de
discursos – ou seja, por meio de texto.
A pesquisa quantitativa tem o
objetivo de contar, ordenar e medir para estabelecer a frequência e a
distribuição dos fenômenos, para buscar padrões de relação entre variáveis,
testar hipóteses existentes, estabelecer intervalos de confiança para
parâmetros e margens de erro para as estimativas. O pesquisador da área
quantitativa levanta, portanto, dados numéricos.
Em algumas áreas, os pesquisadores se envolvem em verdadeiras guerras
para tentar determinar o “melhor” método de pesquisa. Mas o certo seria estudar
as estratégias de pesquisa lado a lado. Por exemplo, um pesquisador que queira
estudar a experiência subjetiva com uma doença mental deve entrevistar alguns
pacientes e depois proceder á análise detalhada dos dados. Já o pesquisador que
pretenda estudar a frequência e a distribuição dessas doenças na população,
deve proceder a uma pesquisa quantitativa, levantando dados de grande número de
pessoas 1.
Os dois métodos de pesquisa não são, portanto, nem opostos nem
oponentes; ao contrário, são complementares. Quando se está diante de realidades pouco conhecidas, deve ser
feita uma pesquisa qualitativa, que é
menos estruturada. Nas áreas em que existem conhecimentos
consagrados, é indicada a pesquisa
quantitativa. A pesquisa qualitativa deve anteceder a quantitativa. De
maneira simples, pode ser feita uma pesquisa qualitativa com poucas pessoas
para levantar as palavras ou expressões mais comumente usadas para descrever
sentimentos diante de uma situação vivida – como um grande incêndio, por
exemplo. Depois, pode ser feita uma pesquisa quantitativa, organizando um
questionário com as palavras ou expressões levantadas na pesquisa qualitativa,
que será aplicado a um grande número de respondentes para comparar a
distribuição estatística dos sentimentos expressos por diferentes grupos.
Historicamente, as pesquisas qualitativas são rejeitadas nas áreas de
saúde por conta da grande possibilidade de viés e de as amostras serem muito
pequenas para permitir generalizações. Não têm reprodutibilidade e, por isso,
são consideradas, por alguns, como soft science.
Mas – como colocam dois pesquisadores da área qualitativa 2 – os
críticos do método dizem que a pesquisa qualitativa traz muita informação sobre
poucas unidades. E eles então rebatem: a pesquisa quantitativa também tem
limitações, isto é, nenhuma pesquisa traz a “verdade” sobre o todo. Importantes
são a competência do pesquisador e a propriedade dos dados, da análise, das
conclusões. Não há dúvida de que esses pesquisadores têm razão: discutir qual é
o método mais adequado de pesquisa não faz sentido. O pesquisador escolhe o
método em função da pergunta que pretende responder. E deve usar as técnicas
que tornaram o método científico, lembrando sempre que um estudo quantitativo
pode gerar questões que precisam ser tratadas por método qualitativo, e
vice-versa 3.
As pesquisas de intenção de votos são quantitativas. O pesquisador
pergunta para grande número de pessoas: “Se a eleição fosse hoje, em quem o
senhor votaria?” Calcula, então, os percentuais de votos para cada candidato,
com as devidas margens de erro. Depois, pode escrever com bastante confiança:
“Se a eleição fosse hoje, o candidato X muito provavelmente venceria.” A
pesquisa é quantitativa.
Por ocasião das prévias eleitorais, muito se fala sobre a importância da
pesquisa qualitativa. Nesse tipo de pesquisa, o entrevistador perguntaria, por
exemplo, às pessoas: ”Que qualidades um Presidente da República deve ter?” ou
“Quais são os principais problemas do país?” e depois analisaria o conteúdo das
respostas dos respondentes.
A questão4 “Que proporção de fumantes, considerando sexo e
faixa de idade, já tentou parar de fumar?” necessita respostas por meio de
pesquisa quantitativa. O pesquisador pergunta ou pede às pessoas que respondam
um questionário. Depois, apura os dados, calcula os percentuais por sexo e faixa
etária e faz generalizações, dentro de certa margem de erro. A pesquisa é
quantitativa.
Para saber o que impede as pessoas de deixar o hábito de fumar, deve ser
feita uma pesquisa qualitativa. O pesquisador perguntaria “Por que o senhor não
para de fumar?” conversaria longamente com cada pessoa de um pequeno grupo,
ouviria razões e opiniões e depois faria uma análise do conteúdo das respostas.
A pesquisa é qualitativa.
Para saber o que as pessoas entendem quando se fala em descriminalizar
as drogas, o pesquisador faria uma pesquisa qualitativa entrevistando poucas
(cerca de 20) pessoas. Para saber o percentual de pessoas favoráveis à
descriminalização das drogas, a distribuição desse porcentual por sexo, grupo
de idade, nível de escolaridade, nível socioeconômico, região do país, o
pesquisador faria uma pesquisa quantitativa entrevistando muitas (cerca de
2000) pessoas.
REFERÊNCIAS
1.
FLICK, U.
Uma introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Samira Netz. 2ed. Porto Alegre.
Bookman 2004. p 272.
2.
Mays, N and Pope, C. (1995) Riguer and
qualitative research. British Medical Journal 311: 109-12.
3.
MINAYO,
Maria Cecilia S.; SANCHES, Odécio. Quantitativo-qualitativo: oposição ou
complementaridade? Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p.
239-262, jul/set, 1993. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v9n3/02.pdf>. Acesso em: 10 de outubro de
2013.
4.
Greenhalgh,
T. Como ler artigos científicos. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 176.
2 comments:
Boa noite!
Procuro muito pelo seu livro Estatística Experimental (Ed. Atlas), mas não acho ele para comprar e nem para download. Gostaria de saber se tens algum exemplar para a venda ou se possível disponibilizar um link para download.
Desculpe o incômodo e obrigado pela atenção.
Anacleto Neves
Obrigada pelo interesse, Anacleto, mas esse livro está esgotado. A Atlas foi vendida para a GEN, que não teve interesse nesse livro. Como muitas pessoas têm procurado o livro comigo, vou tentar outra Editora. Infelizmente, não tenho mais exemplares na minha estante. Sonia Vieira
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