Thursday, August 13, 2015

O que é pesquisa?


Pesquisa é uma forma de investigação. Não é possível fazer pesquisa sem que haja um problema para resolver ou uma pergunta para responder. Toda pesquisa é feita para ampliar o conhecimento, qualquer que seja a área de trabalho do pesquisador. Mas existem riscos e incertezas. O pesquisador precisa buscar evidências que apoiem sua argumentação para a solução do problema ou para a resposta à pergunta. Para chegar à evidência, um pesquisador precisa de dados. 

Método de pesquisa é a técnica usada para a coleta de dados, ou seja, é a estratégia usada pelo pesquisador para coletar as informações que precisa para resolver seu problema ou para responder a sua pergunta. Mas quais são os métodos de pesquisa?
Em linhas gerais, uma pesquisa pode ser feita segundo dois métodos, sendo então identificadas como:
        a)      Pesquisa qualitativa
        b)     Pesquisa quantitativa.
A pesquisa qualitativa tem o objetivo de entender o comportamento das pessoas, suas opiniões, seus conhecimentos, suas atitudes, suas crenças, seus medos. Está, portanto, relacionada ao significado que as pessoas atribuem às suas experiências do mundo e ao modo como entendem o mundo em que vivemos.  O pesquisador da área qualitativa levanta dados por meio de entrevistas, grupos de discussão, observação direta, análise de documentos e de discursos – ou seja, por meio de texto.
A pesquisa quantitativa tem o objetivo de contar, ordenar e medir para estabelecer a frequência e a distribuição dos fenômenos, para buscar padrões de relação entre variáveis, testar hipóteses existentes, estabelecer intervalos de confiança para parâmetros e margens de erro para as estimativas. O pesquisador da área quantitativa levanta, portanto, dados numéricos.
Em algumas áreas, os pesquisadores se envolvem em verdadeiras guerras para tentar determinar o “melhor” método de pesquisa. Mas o certo seria estudar as estratégias de pesquisa lado a lado. Por exemplo, um pesquisador que queira estudar a experiência subjetiva com uma doença mental deve entrevistar alguns pacientes e depois proceder á análise detalhada dos dados. Já o pesquisador que pretenda estudar a frequência e a distribuição dessas doenças na população, deve proceder a uma pesquisa quantitativa, levantando dados de grande número de pessoas 1.
Os dois métodos de pesquisa não são, portanto, nem opostos nem oponentes; ao contrário, são complementares. Quando se está diante de realidades pouco conhecidas, deve ser feita uma pesquisa qualitativa, que é menos estruturada. Nas áreas em que existem conhecimentos consagrados, é indicada a pesquisa quantitativa. A pesquisa qualitativa deve anteceder a quantitativa. De maneira simples, pode ser feita uma pesquisa qualitativa com poucas pessoas para levantar as palavras ou expressões mais comumente usadas para descrever sentimentos diante de uma situação vivida – como um grande incêndio, por exemplo. Depois, pode ser feita uma pesquisa quantitativa, organizando um questionário com as palavras ou expressões levantadas na pesquisa qualitativa, que será aplicado a um grande número de respondentes para comparar a distribuição estatística dos sentimentos expressos por diferentes grupos.
Historicamente, as pesquisas qualitativas são rejeitadas nas áreas de saúde por conta da grande possibilidade de viés e de as amostras serem muito pequenas para permitir generalizações. Não têm reprodutibilidade e, por isso, são consideradas, por alguns, como soft science. Mas – como colocam dois pesquisadores da área qualitativa – os críticos do método dizem que a pesquisa qualitativa traz muita informação sobre poucas unidades. E eles então rebatem: a pesquisa quantitativa também tem limitações, isto é, nenhuma pesquisa traz a “verdade” sobre o todo. Importantes são a competência do pesquisador e a propriedade dos dados, da análise, das conclusões. Não há dúvida de que esses pesquisadores têm razão: discutir qual é o método mais adequado de pesquisa não faz sentido. O pesquisador escolhe o método em função da pergunta que pretende responder. E deve usar as técnicas que tornaram o método científico, lembrando sempre que um estudo quantitativo pode gerar questões que precisam ser tratadas por método qualitativo, e vice-versa 3.
As pesquisas de intenção de votos são quantitativas. O pesquisador pergunta para grande número de pessoas: “Se a eleição fosse hoje, em quem o senhor votaria?” Calcula, então, os percentuais de votos para cada candidato, com as devidas margens de erro. Depois, pode escrever com bastante confiança: “Se a eleição fosse hoje, o candidato X muito provavelmente venceria.” A pesquisa é quantitativa.
Por ocasião das prévias eleitorais, muito se fala sobre a importância da pesquisa qualitativa. Nesse tipo de pesquisa, o entrevistador perguntaria, por exemplo, às pessoas: ”Que qualidades um Presidente da República deve ter?” ou “Quais são os principais problemas do país?” e depois analisaria o conteúdo das respostas dos respondentes. 
A questão4 “Que proporção de fumantes, considerando sexo e faixa de idade, já tentou parar de fumar?” necessita respostas por meio de pesquisa quantitativa. O pesquisador pergunta ou pede às pessoas que respondam um questionário. Depois, apura os dados, calcula os percentuais por sexo e faixa etária e faz generalizações, dentro de certa margem de erro. A pesquisa é quantitativa.
Para saber o que impede as pessoas de deixar o hábito de fumar, deve ser feita uma pesquisa qualitativa. O pesquisador perguntaria “Por que o senhor não para de fumar?” conversaria longamente com cada pessoa de um pequeno grupo, ouviria razões e opiniões e depois faria uma análise do conteúdo das respostas. A pesquisa é qualitativa.
Para saber o que as pessoas entendem quando se fala em descriminalizar as drogas, o pesquisador faria uma pesquisa qualitativa entrevistando poucas (cerca de 20) pessoas. Para saber o percentual de pessoas favoráveis à descriminalização das drogas, a distribuição desse porcentual por sexo, grupo de idade, nível de escolaridade, nível socioeconômico, região do país, o pesquisador faria uma pesquisa quantitativa entrevistando muitas (cerca de 2000) pessoas.
 REFERÊNCIAS
1.              FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Samira Netz. 2ed. Porto Alegre. Bookman 2004. p 272.
2.              Mays, N and Pope, C. (1995) Riguer and qualitative research. British Medical Journal 311: 109-12.
3.              MINAYO, Maria Cecilia S.; SANCHES, Odécio. Quantitativo-qualitativo: oposição ou complementaridade? Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 239-262, jul/set, 1993. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v9n3/02.pdf>. Acesso em: 10 de outubro de 2013.
4.               Greenhalgh, T. Como ler artigos científicos. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 176.

2 comments:

Anacleto Zamen Al-Harab Neves said...

Boa noite!
Procuro muito pelo seu livro Estatística Experimental (Ed. Atlas), mas não acho ele para comprar e nem para download. Gostaria de saber se tens algum exemplar para a venda ou se possível disponibilizar um link para download.
Desculpe o incômodo e obrigado pela atenção.

Anacleto Neves

Sonia Vieira said...

Obrigada pelo interesse, Anacleto, mas esse livro está esgotado. A Atlas foi vendida para a GEN, que não teve interesse nesse livro. Como muitas pessoas têm procurado o livro comigo, vou tentar outra Editora. Infelizmente, não tenho mais exemplares na minha estante. Sonia Vieira