Estatística é a ciência que fornece os princípios e a metodologia para coleta,
organização e análise de dados. Por conta disso, os pesquisadores das mais
diferentes áreas buscam, uma vez ou outra, um consultor (a) de estatística. Mas
o consultor de estatística deve ter, além de conhecimento na área, habilidade
para estabelecer bom relacionamento com os profissionais que o procuram. é um risco, de parte a parte.
Muitos anos de atividade como
consultora de estatística me convenceram de que é raro reunir, numa única
entrevista, um problema interessante para o consultor, um pesquisador
inteligente e disposto a estudar e uma situação favorável de trabalho. Mas
quando essas três condições estão ausentes, fica difícil lidar com a situação.
Um constante alerta para as questões de ética talvez seja a melhor defesa
contra os reveses que podem ocorrer. E são muitos os meandros da consultoria
estatística que trazem, em seu bojo, a possibilidade de frustração e sensação
de derrota.
Alguns percalços, porém,
têm alto risco. Existem pesquisadores que esperam demais do consultor de
estatística: querem que o consultor se entusiasme pelo trabalho deles,
repita explicações várias vezes porque eles “não são bons na matemática”, tenha
tempo sempre que eles precisarem e redija os resultados, além de se
responsabilizar pelas conclusões.
Também é comum que um
pesquisador apresente o trabalho feito pelo estatístico como sendo seu, sem
sequer referenciar o nome do profissional que consultou. É fácil medir o risco: basta olhar algumas
revistas especializadas e procurar pelos artigos que expõem análises
estatísticas sofisticadas. Grande parte desses artigos não dá o nome de quem
fez a análise, o nome do programa de computador utilizado ou o título de um
livro didático que exponha a técnica utilizada. Quando perguntados sobre o
autor das análises estatísticas, os autores alegam que o serviço de estatística
foi pago – e esquecem que eles também são pagos para trabalhar.
Não é claro, porém, quando o
estatístico deva ser co-autor do trabalho. Há exageros dos dois lados. Alguns
estatísticos exigem co-autoria de trabalhos em que somente calcularam médias e
desvios padrões e desenharam gráficos. Isso é inaceitável porque, em tais
casos, o trabalho do estatístico é de consultor. Outras vezes, o nome do
estatístico não é sequer citado em trabalhos que exibem, por exemplo, o ajuste
de uma função logística passo a passo para dados de resposta quântica, com
testes e intervalos de confiança.
Entretanto, a melhoria do status profissional do estatístico nas áreas
da saúde depende tanto de o estatístico aprender a dar consultoria como de o
pesquisador aprender metodologia científica. Os estatísticos começam a dar
consultoria sem qualquer tipo de treinamento. No curso de Estatística, o aluno
não aprende metodologia científica nem discute consultoria. Interage pouco com
profissionais de outras áreas. O enfoque é a teoria. Já os profissionais das
áreas da saúde tiveram aulas de Bioestatística, mas no início do curso, em
salas superlotadas. O professor, que sente o desinteresse dos alunos, muitas
vezes ensina apenas a usar um programa de computador e não ensina que a
Estatística dá suporte à pesquisa científica.
De qualquer modo, a quantidade
de atenção dada pelo consultor de estatística ao pesquisador depende de
diversos fatores, tais como competência profissional do consultor, propostas
alternativas de trabalho, conhecimento do pesquisador sobre estatística, status profissional do pesquisador, política
do ambiente de trabalho, simpatia e sentimentos pessoais. A ideia de que a
interação pessoal não ocorre em ciência e que o consultor é um indivíduo calmo
e reservado não confere com a realidade. A consultoria estatística é um caos:
trabalha-se sob a pressão de tempo, da falta de verba, da política do ambiente
de trabalho e da discriminação profissional. Da discriminação profissional sim
– porque há pesquisadores que ainda pensam que o estatístico é mero acessório
de computador.
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