A inferência só vale para a população de onde foram obtidos os participantes incluídos no trabalho. Por exemplo, para estudar pessoas sadias usam-se, em geral, voluntários sadios recrutados entre estudantes universitários, empregados de empresas, jovens que estão prestando serviço militar, enfermeiros e técnicos de laboratório, em vez de a população em geral. A rigor, os achados de tais estudos só podem ser aplicados à população da qual a amostra foi retirada.
Mas quantas
unidades são necessárias para formar um grupo, ou seja, que tamanho deve ter a
amostra? Essa é, possivelmente, a pergunta que mais ouvem os estatísticos. Mas
já esta firmando a ideia de que o pesquisador deve considerar o critério
estatístico para o cálculo do tamanho da amostra. Basicamente, a amostra deve
ser:
· tanto
maior quanto maior é a variabilidade;
· tanto
maior quanto menor é a diferença que se quer detectar como significante.
Se um
pesquisador quiser estudar o efeito de exercícios físicos sobre a velocidade de
corrida, deve comparar resultados obtidos no grupo de participantes submetidos
a exercícios físicos periodicamente (grupo tratado, em medicina conhecido como braço ativo) com o grupo de participantes
não submetidos a exercícios físicos (grupo controle, em medicina conhecido como braço de não intervenção). Se os
participantes dos dois grupos variarem muito em relação às variáveis que afetam
a velocidade de corrida (como sexo, idade, sobrepeso), a comparação exigirá
grupos muito grandes. Os grupos serão menores se o pesquisador recrutar apenas
jovens saudáveis do gênero masculino, com idade entre 18 e 20 anos, com peso
normal. Por quê? Porque neste segundo grupo a velocidade de corrida deve variar
menos (variância menor).
A
variabilidade é medida pela variância, uma estatística calculada diretamente dos dados. E onde o pesquisador
acha os dados? Só existem dois caminhos: o pesquisador pode buscar informações
na literatura ou fazer uma amostra piloto. Se o pesquisador tiver uma
estimativa da variância que obteve da literatura, precisa ficar atento porque a
variabilidade do seu material pode ser maior do que a variabilidade do material
usado por outros pesquisadores. Então é mais seguro determinar o tamanho da
amostra usando uma amostra piloto. Para isso, o pesquisador toma uma pequena
amostra da população que pretende estudar – por exemplo, 20 pessoas – trata
da maneira convencional e faz as medidas que pretende fazer na pesquisa em
planejamento. Com base nesses dados, é possível ter uma estimativa da variância
para calcular o tamanho da amostra. Existem fórmulas para isso.
Vamos entender agora que a amostra aumenta em função da grandeza da diferença que se quer perceber. Por exemplo, em um estudo sobre a redução da mortalidade de bebês por determinada causa, se o efeito da intervenção for dramático – por exemplo, reduzir a taxa de mortalidade, que era de 80% para 20% – uma amostra relativamente pequena é suficiente. No entanto, se o efeito da intervenção for muito discreto – por exemplo, reduzir a taxa de mortalidade , que era de 80% para 75% – é preciso uma amostra muito maior.[1]
Desta última afirmativa que é, até certo ponto, intuitiva, é fácil entender que, para comparar o grupo tratado, que recebe uma nova droga, com o grupo controle, que recebe apenas placebo, é razoável usar amostra menor do que a que seria usada se a proposta fosse comparar um grupo tratado, que recebe uma nova droga, com o controle positivo, que recebe uma droga conhecida. Isso porque se espera maior diferença do grupo que recebeu a droga com o grupo que recebeu placebo, do que com o grupo que recebeu uma droga conhecida (controle positivo).
Um
pesquisador quer verificar se uma nova intervenção reduz a taxa de mortalidade
por determinada causa, que era de 90%, para 25%, conforme indicam pesquisas
pré-clínicas. Então a “taxa de sucesso” era de 10% (os que não morriam) e, com
a nova intervenção, passa a ser 75%. Para alfa= 5%, Z = 1,96 e para beta = 80%,
Z= 0,84. Podemos escrever:
São
necessários 6 pacientes em cada grupo, para detectar que a nova intervenção
reduz a mortalidade (alfa= 5%, beta = 80%).
Faça o
cálculo em:
https://select-statistics.co.uk/calculators/sample-size-calculator-two-proportions/
Amostras
pequenas têm pouco poder de teste – a menos que o efeito da nova intervenção
seja dramático, como no exemplo dado. É, pois, quase certo que alguns tratamentos tenham sido
descartados prematuramente pelo fato de terem sido testados em ensaios que, em
razão do tamanho reduzido, não poderiam, mesmo, dar respostas conclusivas.[3] Mas hoje os pesquisadores têm cuidado
para aumentar o poder do teste. As amostras aumentaram de tamanho, há um uso
maior de resultados compostos (composite outcomes) e de resultados
substitutos (surrogate outcomes).
Para aumentar os tamanhos das amostras, em alguns países já se faz recrutamento de pacientes por meio da Internet. O NIH (National Institutes of Health), órgão do governo americano, oferece informações sobre ensaios clínicos que estão recrutando participantes, já não estão recrutando participantes ou suspenderam, temporariamente, o recrutamento em todos os Estados Unidos da América (www.clinicaltrials.gov). Outra fonte de ensaios clínicos na Web: www.Center Watch.com.
O
pesquisador também pode conseguir participantes para um ensaio clínico fazendo
recrutamento público por meio de cartazes fixados em lugares de bastante
trânsito, anúncios em jornais ou em rádios.[4] Esse sistema, não usado no
Brasil, é comum em outros países.
[1] Existem fórmulas para determinar o
tamanho da amostra. Veja:
Cochran, W. G., Sampling techniques; Nova York: Wiley, 1977.
[2] Cochran, W. G. e Cox, GM. Experimental design. Nova York,
Wiley, 2ª ed. 1957.
[3] Falando em uma reunião do FDA, o Dr.
Robert Temple, diretor do Office of Drug Evaluation, isto é, Departamento de
Avaliação de Drogas, órgão subordinado ao FDA, considerou “ridículo” um
experimento com sete pacientes por grupo.
[4] A Resolução 251/97 do Conselho Nacional
de Saúde, Ministério da Saúde, estabelece, no item V. d, que avisos em meios de
comunicação para recrutar participantes de pesquisa precisam ser autorizados
pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
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