Monday, June 15, 2020

Achatar a curva: o que significa?


A expansão do COVID-19 é comumente monitorada pela variação percentual, que se obtém dividindo o aumento do número de casos em um dia pelo número de casos existentes no dia anterior. Por exemplo, se ontem havia 50 casos e hoje são 55, o aumento do número de casos foi 5. Dividindo 5 pelo número de casos existentes ontem, que neste exemplo é 50, você encontra 0,1, ou seja, 10% de variação percentual, de ontem para hoje.  O mesmo raciocínio se aplica para obter a variação percentual de óbitos.

Mas a expressão “crescimento exponencial também ficou comum para expressar o crescimento muito rápido de novos casos e de óbitos atribuídos ao COVID-19. No entanto, ainda há dificuldade de entender o que significa crescimento exponencial. Na matemática, dizemos que uma sequência de números está crescendo exponencialmente quando cada número da sequência é igual ao anterior multiplicado por uma constante maior do que 1. Então a curva cresce indefinidamente. Veja a sequência de números dados em seguida, em gráfico na Figura 1. O crescimento é exponencial.


Na fase inicial, a expansão do COVID-19 pode até ser vista como uma exponencial. No entanto, essa expansão não segue um modelo exponencial. As epidemias acabam com o esgotamento dos suscetíveis ou, como se diz, com a imunidade do rebanho. O número de novos casos aumenta rapidamente, atinge um pico e depois diminui. Isso é chamado de curva epidemiológica, um gráfico estatístico usado para mostrar o início e a progressão de uma doença. Os dados da China e da Coréia do Sul corroboram essa ideia.

Mas porque a China, primeiro país a se haver com a doença, acabou determinando o isolamento social de milhões e milhões de pessoas? A explicação é dada pelos epidemiologistas: a taxa de contágio do COVID-19 é alta; não há vacina nem tratamento para a doença. Infectar toda a população mundial não é a melhor forma de agir. Então a solução proposta pelos epidemiologistas para desacelerar a expansão do COVID-19 foi a de "achatar a curva". Isso mesmo: em vez de deixar o virus invadir rapidamente a população e desaparecer rapidamente devido ao esgotamento dos suscetíveis, a proposta dos epidemiologistas é desacelerar a velocidade de contágio, impondo o isolamento social. É verdade que alguns governos como o britânico pensaram (e outros ainda pensam) em aguardar a “imunidade do rebanho”. Mas como é mostrado na Figura 2, haveria um colapso do sistema de saúde (como aconteceu na Itália) e até do sistema funerário (como está acontecendo no Equador).


 

Estima-se que cerca 10% ou mais dos casos de COVID-19 precisam de hospitalização. Cerca de 5% precisam de unidade de terapia intensiva (UTI). O número de novos casos é proporcional ao número de casos existentes e ao número de expostos a esses casos. Se a exposição for muito grande (em transportes coletivos, cinemas, shows, restaurantes), o número de infectados subirá muito acentuadamente (a curva vermelha). Então o número de pacientes que precisará de leitos nas unidades de terapia intensiva (UTI) pode exceder a capacidade dos hospitais locais. É o caos, o colapso do sistema de saúde. A curva azul mostra o crescimento da curva quando se adotam políticas de contenção, ou seja, isolamento social mais, ou menos, severo. É claro que isso traz consequências para a economia, mas é o que se pode fazer. A necessidade de isolamento social não é, infelizmente, intuitiva.

 

Mas o problema não será resolvido de maneira fácil: vírus costumam voltar depois que desaparecem. Em outras palavras, pode ocorrer uma nova onda da doença, ou seja, a curva epidemiológica pode começar se tornar senoidal. Não se sabe se isso acontecerá, mas daí a urgência de uma vacina e a lógica das restrições atualmente impostas pela China para a entrada dos que lá chegam: é o medo de uma segunda onda. A Figura 3 mostra uma simulação recente, feita por epidemiologistas, sobre a possível evolução, com a segunda onda, do COVID-19 para o restante de 2020. Que isso não aconteça!

      Figura 3 – Simulação de possível evolução de casos da

                                  COVID-19 em 2020

                                                                

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