From How to lie with statistics de Darrell Huff
Diante da
questão “as estatísticas podem corroborar nas fake news?”, apontamos alguns
métodos frequentemente usados -
propositalmente ou não - que distorcem a verdade que a estatística pode mostrar.
Aqui estão os tipos comuns de estatísticas que conduzem a fake news:
v Fabricação de
dados
v Coleta
inadequada de dados
v Falta de entendimento
do conceito de probabilidade
v Não
identificação clara da unidade de medida
v Interpretação inadequada
das estatísticas
v Crença desmedida
na voz da experiência
Em ciência, sempre houve fabricação ou falsificação de dados. Um
caso famoso para os que estudam história da ciência é o de um psicólogo inglês
– Cyril Burt – que encasquetou a ideia de que quociente de inteligência é
altamente herdável. Ele fabricou dados e inventou colaboradores para provar sua
hipótese 1.
Depois – munido
dessas falsidades – escreveu livros e artigos, ficou famoso e chegou a
influenciar o sistema escolar inglês, que passou a exigir um teste de Quociente
de Inteligência (Q.I.) das crianças de 9 anos, para encaminhá-las a diferentes
cursos. Demorou a ser desmascarado.
Outro ponto importante é a coleta de amostras. Por exemplo, afirma-se que as famílias se tornaram menores. Para verificar essa afirmativa, pode parecer razoável
perguntar para muitos casais quantos filhos eles têm, quantos filhos tiveram
seus pais e quantos filhos tiveram seus avós. Mas os resultados seriam
tendenciosos. Casais de gerações anteriores que não tiveram filhos não têm
possibilidade de serem amostrados. Já os casais de gerações anteriores que
tiveram muitos filhos, têm maior chance de serem amostrados. Da mesma forma,
não se pode estimar o número médio de crianças por família, perguntando à
criançada do curso fundamental quantos irmãos tem cada um. As famílias grandes
teriam maior chance de serem amostradas. Então, um levantamento de dados para
mostrar que as famílias, em média, se tornaram menores, teria de obedecer
outros critérios.
Ainda, o conceito de probabilidade precisa ser bem entendido. Probabilidade se refere ao futuro e mira grandes amostras. A probabilidade de sair cara quando se lança (futuro) uma moeda é 50%, mas se você já lançou a moeda, é passado, já aconteceu. A probabilidade se refere a grandes amostras. Não se prevê, para uma pessoa, um evento no futuro com base em cálculos de probabilidade (as cartomantes fazem isso). A probabilidade se refere a grandes amostras. Você tem cálculos de probabilidade de morte em diferentes idades, mas você não sabe com que idade irá morrer. A Estatística tem lógica – e quem não entende essa lógica, não pode usar argumentos de estatística. Você precisa aprender a pensar estatisticamente, para não fazer como aquele cirurgião para quem o paciente perguntou quais eram suas chances de sobreviver a uma difícil cirurgia. E o cirurgião prontamente respondeu: “De cada dez pacientes operados, morrem nove. Esta semana eu operei nove e todos já morreram. Então o senhor vai sobreviver”.
E é importante
saber qual é a unidade da amostra:
uma pessoa? Uma família? Uma comunidade? Quando uma informação é de toda uma equipe, é importante responsabilizar
toda a equipe – para o bem ou para o mal... Mas as universidades produzem
estatísticas confusas. Hoje, é praticamente obrigatório trabalhar em equipe. No
entanto, ainda se fazem relatórios com o "número
de trabalhos publicados por professor." Isso significa que um
trabalho publicado por dez professores, acaba sendo contado como dez trabalhos...
Por outro lado, se o trabalho deve ser individual, não se pode aparecer com uma
equipe, como fez um técnico de atletismo que, não tendo nenhum atleta que
pulasse três metros, resolveu apresentar três atletas que pulavam um metro cada
um.
E muito cuidado
na interpretação das estatísticas.
Por exemplo, o "custo de cada aluno para o Estado" é obtido dividindo
o custo de todo o sistema educacional pelo número de alunos. Mas como nem todo
o sistema educacional está a serviço do aluno (Ah! A gestão! Ah! a propina!), esse cálculo não
faz sentido.
Os números não mentem – mas as pessoas podem usar
números para trapacear. Então você precisa ter os olhos bem abertos, para não
cair em qualquer engodo. Conta-se que um vendedor de sucos anunciava seu
delicioso vitaminado, feito com "12 frutas". Perguntado sobre quais
eram as frutas que entravam no vitaminado, foi claro: "São seis bananas e
seis laranjas!”
Informações numéricas não são,
necessariamente, verdadeiras. No entanto, com base em informações numéricas é
possível mudar a afirmação, de falsa para verdadeira, ou de verdadeira para
falsa. Mas é preciso cuidado. Então, para evitar o risco,
procure sempre um estatístico.
Finalmente, não
custa lembrar que experiência
não basta. A experiência precisa estar em constante em debate e contestação. Lembre-se das mulas do exército de Napoleão. Elas
participaram de uma centena de campanhas e tinham experiência de guerra - mas
continuavam mulas!
Referência
1. Hearnshaw, L.S. Cyril Burt, psychologist. London, Hodder and Stoughton, 1979.
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