A análise de variância
(ANOVA) é aplicada para determinar se existe diferença significativa entre
as médias de dois ou mais grupos independentes. Embora exija pressupostos
específicos, eles não serã discutidos aqui. De qualquer forma, uma vez
realizada a análise de variância, o passo seguinte é examinar as médias e as
diferenças entre elas. Por exemplo, quando a ANOVA revela um valor de F
estatisticamente significante, é natural perguntar: o que é diferente de
quê?
Considere um experimento
comparando três grupos — A, B e C — com médias de 70, 90 e 100,
respectivamente. Se o teste F indicar que as médias diferem significativamente
ao nível de 5%, o pesquisador buscará identificar onde estão essas diferenças:
🔸 A média de A é diferente da média de B ?
🔸 A média de A é diferente da média de C ?
🔸 A média de B é diferente da média de C ?
Para responder a essas
perguntas, utiliza-se um teste de comparação de médias. Diversos testes
foram propostos ao longo do tempo. Cada um apresenta vantagens e limitações.
Todos eles receberam os nomes de seus respectivos
autores.
Cabe lembrar que muitos
estatísticos teóricos consideram os testes de comparação de médias como indicadores
da realidade, e não como soluções exatas. Por essa razão, algumas
revistas científicas, como o British Medical Journal, por exemplo, não
aceitam resultados baseados apenas em testes de médias. Elas exigem a
apresentação de intervalos de confiança, que aliás são facilmente
obtidos nos outputs de softwares estatísticos. Ainda assim, é comum a
busca por “significância” estatística como forma de avaliar os resultados — ou
seja, a aplicação de testes para comparação de médias.
Um pesquisador pode decidir,
antes da análise dos dados, que só irá comparar as médias se o valor de F for
significante a determinado nível. Quando isso ocorre, diz-se que o método
utilizado é protegido. Por outro lado, se as comparações forem feitas
independentemente do resultado do teste F, o método é chamado de não-protegido.
A recomendação geral é usar métodos protegidos.
Os testes de comparação de
médias podem ser agrupados em três categorias principais:
🔸 Comparações duas a duas (pairwise comparisons)
🔸Comparações com grupo controle (comparisons with control)
🔸 Comparações múltiplas (multiple comparisons)
Na postagem anterior (quais tratamentos são diferentes? Descubra com o teste de Tukey), foi
apresentado o teste de Tukey, provavelmente o mais conhecido entre os testes
para comparações de médias duas a duas. Nesta postagem, veremos o teste de
Dunnett, menos comum, mas particularmente útil quando se deseja comparar
grupos tratados com um grupo controle.
📢 Exemplo: Comparação com o Controle
Imagine um ensaio clínico com o
objetivo de comparar o efeito de cinco drogas na redução da pressão arterial.
Um médico convida 30 pacientes a participar do estudo e os distribui
aleatoriamente em seis grupos, com cinco participantes cada:
🔸 O Grupo 1 recebe placebo (controle)
🔸 Os Grupos de 2 a 6 recebem, cada um, uma das cinco
drogas em teste.
A Tabela 1 mostra a redução da
pressão arterial (em mmHg) entre o início e o fim do ensaio para cada
participante.
Tabela 1
Redução da pressão arterial, em mmHg, segundo o
tratamento
Esses dados foram submetidos à
análise de variância, cujos resultados são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2
Resultados da análise de variância
📢 Aplicando o
Teste de Dunnett
Considerando os dados da Tabela
1, podemos comparar as médias dos grupos tratados com a média do grupo controle
usando o teste de Dunnett. Para isso, siga os seguintes passos:
🔸 Escolha o nível de significância (por exemplo, 5%)
🔸 Calcule o valor crítico da diferença mínima
significativa (DMS) usando a fórmula:
Onde:
🔸d é o valor
crítico obtido da tabela de Dunnett para o número de grupos tratados e graus de
liberdade do resíduo;
🔸 QMR é o quadrado médio do resíduo da ANOVA;
🔸 r é o número
de repetições por grupo.
Tabela 3
Valor de d (em negrito) para nível de significância de 5%,
número (5) de grupos tratados e graus de liberdade do resíduo (24)
Fonte: Critical Values of Dunnett's Test — www.stat.ufl.edu/~winner/tables/dunnett-2side.pdf)
Para o exemplo, o valor crítico da diferença mínima significativa é: (
As médias dos grupos tratados e as diferenças em relação à média do grupo controle estão na Tabela 4. Os tratamentos A, D e E apresentam, em média, melhor desempenho do que o controle.
Tabela 4
Diferenças entre as médias dos grupos tratados e a média do controle
Nota: O asterisco indica significância no nível de 5%.
Os resultados do ensaio podem ser apresentados em um boxplot. Veja:
OUTPUT DO MINITAB
5 comments:
Olá, obrigado pela explicação.
Só uma dúvida: na tabela para Dunnett, o valor encontrado para 5x24 é 2,61 e não 2,70! Devo somar +1 no número de tratamentos?
Obrigada, Rodrigo, mas acho que é, mesmo, 2,70. Há tabelas que dão os valores críticos para o número de grupos tratados, mas outras referem-se a todos os grupos, incluindo o controle.
Bom dia! Gostaria de saber se ao fazer a análise pelo minitab o software me informa o valor da DMS? Atenciosamente, Lara.
Há diferenças entre os softwares, considerando a edição. No meu não consta, mas é antigo. Tem, sim, as médias e a indicação das significâncias pelo Dunnet.
Há diferenças entre os softwares, considerando a edição. No meu não consta, mas é antigo. Tem, sim, as médias e a indicação das significâncias pelo Dunnet.
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