Os estudos
longitudinais ou prospectivos são mais informativos do que os estudos
transversais, mas além de terem limitações, também impõem algumas dificuldades
para a análise. Primeiramente, não custa lembrar que as diferenças individuais
são mais a regra do que a exceção. A média geral obtida de uma amostra diz
pouco sobre cada pessoa em particular, uma vez que cada participante de
pesquisa tem um erro específico em relação ao padrão populacional médio. Daí a
necessidade de bem estudar a heterogeneidade observada na amostra, medida pela
variância. Mas como fazer a análise?
A dificuldade mais
importante para uma boa análise dos dados é, possivelmente, aquela trazida pela
perda de dados. Afinal de contas, nem todos os participantes de pesquisa
permanecem no estudo por todo o período em que as medições estavam planejadas.
As razões para um participante se retirar do estudo são múltiplas e variadas.
Por exemplo, um participante pode se retirar da pesquisa por se sentir bem o
suficiente a ponto de achar que permanecer com o tratamento não mais trará
benefícios. Por outro lado, uma pessoa pode desistir pelo fato de não ter obtido
resultados conforme a própria expectativa ou por ter se assustado com efeitos
colaterais do tratamento, mesmo que leves e eventuais.
Quando as desistências
(drop-outs) ocorrem em ensaios clínicos controlados e randomizados, os analistas
em geral optam por fazer uma análise considerando a “intenção de tratar”. A última
medida feita é mantida até o final do ensaio, como se fosse medida observada. É
o que se chama LOCF (last observation carried forward). Isso também é feito nos
estudos longitudinais, principalmente quando de longa duração, em que ocorrem
muitas desistências. No entanto, participantes que permanecem até o final do estudo
podem ser diferentes daqueles que se retiraram. Mais ainda, as respostas dos
participantes que seriam obtidas no final do estudo talvez fossem diferentes
das respostas observadas na última medição. De qualquer forma, o uso de LOCF ajuda para o procedimento de uma análise de variância, porque os dados ficam balanceados.
Também é possível que ocorram dados perdidos mesmo quando os participantes permanecem até o final. Isto acontece porque o número de participações de cada pessoa pode variar, uma vez que a pessoa pode faltar em uma ou mais consultas. As
medições podem, também, não ficar igualmente espaçadas para todos pelo simples
fato de nem todos os participantes terem tempo disponível na mesma ocasião. Dados
perdidos são sempre um problema para uma análise de variância tradicional, mas que
pode ser bem resolvido por uma análise de regressão.
As dificuldades para
análise não param, porém, por aqui. Existe correlação entre medidas sucessivas
tomadas no mesma pessoa. A análise estatística precisa, portanto, considerar a auto
correlação dos resíduos, para que as conclusões não fiquem prejudicadas. Na análise de variância, participantes são tomados como um critério de classificação, de efeitos aleatórios.
Mas
além da correlação que aparece devido às medidas feitas repetidamente nas
mesmas pessoas, há, ainda, a correlação devido o agrupamento de pessoas em
escolas, clínicas, hospitais, cidades. Embora a correlação produzida pelo
agrupamento seja bem menor do que aquela produzida pela repetição de medidas no
mesmo participante, ainda assim pode levar a subestimação da variância, se o
efeito do agrupamento não for levado em conta na análise. Vamos ampliar a discussão em novas postagens.
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