Sunday, September 29, 2019

Estudos longitudinais





    Estudos longitudinais ou prospectivos fazem medições repetidas das mesmas pessoas ao longo do tempo, enquanto estudos transversais coletam dados em apenas determinado momento. Os estudos longitudinais são mais informativos, mas têm limitações. A maior dificuldade está na perda de observações. Nem todos os participantes de pesquisa estão presentes em todas as sessões que foram inicialmente planejadas na pesquisa.

Ocorrem muitas desistências, principalmente nos estudos longitudinais de longa duração. Desistências prejudicam os resultados. Participantes que permanecem até o final do estudo podem ser diferentes daqueles que se retiram em diferentes momentos. Também ocorrem perdas mesmo quando não há desistências. Se as pessoas puderem faltar em uma ou mais sessões, o número de participações de cada uma pode variar ao longo do estudo. Ainda, as medições podem não ficar igualmente espaçadas porque nem todos os participantes têm tempo disponível na mesma ocasião.

As dificuldades para análise não param, porém, por aqui. Existe correlação entre medidas sucessivas tomadas na mesma pessoa. A análise estatística precisa, portanto, considerar a auto correlação dos resíduos, para que as conclusões não fiquem prejudicadas. Mas além da correlação que aparece devido às medidas feitas repetidamente nas mesmas pessoas, há, ainda, a correlação explicada pelo agrupamento de pessoas em escolas, clínicas, hospitais, cidades. Embora a correlação produzida pelo agrupamento seja bem menor do que aquela produzida pela repetição de medidas no mesmo participante, ainda assim pode levar a subestimação da variância, se o efeito do agrupamento não for levado em conta na análise.

De qualquer modo, estudos longitudinais são comuns na literatura. No entanto, os procedimentos estatísticos para a análise desse tipo de estudo não aumentaram na mesma velocidade. Algumas maneiras de tratar os dados, que deveriam ter apenas interesse histórico, continuam na prática e métodos que apenas reduzem estudos longitudinais a estudos transversais também continuam em uso.

Algumas vezes, é feita uma “análise completa” (complete analysis), isto é, uma análise em que são considerados somente dados de participantes que completaram o estudo. Na maioria das vezes, porém, a amostra analisada é diferente da amostra de participantes que iniciaram o estudo. Se apenas participantes cooperativos completarem o estudo, os resultados podem ser tendenciosos.   

Outra maneira de contornar o problema é considerar que medidas que seriam obtidas depois de o participante deixar de comparecer seriam iguais à medida feita em sua última visita. Essa abordagem é denominada “última observação levada adiante” (last observation carried forward LOCF). Assumimos assim que, uma vez que o participante abandonou o estudo, seu nível de resposta permanecerá inalterado por longo tempo. Mas não há lógica em acreditar nisso. No entanto, a abordagem LOCF continua a ser usada porque é conservadora. Uma crítica ao uso da LOCF é a de que ela pode dar a falsa impressão de que essa é a forma adequada de contornar ao problema dos dados perdidos. Então os pesquisadores podem deixar de se preocupar com a falta de adesão à pesquisa científica e deixar de trabalhar contra isso. E, ainda, cumpre lembrar que uma medida da qualidade do trabalho clínico é o número de participantes que se apresentaram em todas as visitas.

 Na análise de dados longitudinais também é aplicada uma ANOVA de modelo misto, ou seja, uma análise de variância em que cada participante da pesquisa é tomado como um critério de classificação de efeitos aleatórios. Esse tipo de análise é muitas vezes identificado como ANOVA para medidas repetidas. Aqui, a pressuposição implícita é a de que a variação entre indivíduos é constante ao longo do tempo. No entanto, parece mais razoável considerar que a variação entre indivíduos mude ao longo do tempo. Considerando essa observação como limitação, a ANOVA para medidas repetidas não deveria ser usada para análise de dados longitudinais.

Foram desenvolvidas algumas abordagens mais rigorosas para tratar dados longitudinais, com suposições mais realistas sobre o processo de resposta longitudinal e com procedimentos mais adequados para tratar dados perdidos. Entre elas, estão os modelos de equações de estimativa generalizada (GEE). Você pode usar softwares como R e SAS se quiser aplicar GEE em estudos que acompanham pessoas ao longo do tempo.

               VEJA:

 

 

              1.  Laird NM. Missing data in longitudinal studies. Stat Med. 1988; 7:305–15. [PubMed] [Google Scholar]

        2. Gibbons R D,  Hedeker D, DuToit S. Advances in Analysis of Longitudinal  Data.  Annu Rev Clin Psychol. 2010 Apr 27; 6: 79–107.


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