Repetir
a medição é a melhor maneira de avaliar a incerteza do resultado, desde que estejamos confiantes de que
os erros sistemáticos foram minimizados. Se
possível, repetimos as medições no mesmo mensurando em iguais condições muitas vezes, que indicaremos por n. Aplicamos depois técnicas estatísticas
para avaliar a incerteza.
Para
entender a lógica dessa avaliação, vamos usar um exemplo clássico:
a medição de tempo com um cronômetro. Isto porque o tempo de reação
da pessoa que liga e desliga um cronômetro é aleatório e é, de longe, o fator
que mais afeta o erro da medição do tempo.
Imagine então que você tomou nas mãos um cronômetro para medir o período de oscilação de um
pêndulo 1. Você fez n = 5 medições. Os resultados, em
segundos, foram:
3,9;
3,5; 3,7; 3,4; 3,5.
A melhor estimativa para o período de oscilação do
pêndulo é a média aritmética dos n =
5 resultados que você obteve:
Como
temos repetições, podemos estimar também os erros aleatórios. Observe os desvios de cada medida em relação à média,
que estão apresentados na tabela abaixo. São as estimativas dos erros aleatórios.
Medidas do período de oscilação do pêndulo e desvios em relação à média, segundo a ordem da medição
Os resultados das medições estão dispersos em torno da média,
de maneira aleatória. Mas precisamos julgar o grau de dispersão desses valores,
para avaliar a incerteza da medição. Alguém poderia sugerir usar a média dos desvios em relação à média como medida de dispersão. Mas veja:
A média
dos desvios é igual a zero porque desvios com sinal negativo cancelam
desvios com sinal positivo. Você pode se livrar dos sinais negativos?
Claro: é só elevar os desvios ao quadrado. Todos os números ficarão positivos.
Você então calcula a média e extrai a raiz quadrada do resultado. Chega, assim,
a muito famosa fórmula do desvio padrão:
Essa
fórmula é, porém, indicada para calcular o desvio
padrão quando se tem medições de
toda "população". População, aqui, significa que precisaríamos fazer um número infinito de medições do mesmo mensurando, nas mesmas condições, para poder calcular s.
Mas
você só tem cinco medições do período
de oscilação do pêndulo. Então a fórmula tem uma correção e é indicada por s.
O desvio padrão de uma amostra é
Você
calcula facilmente o desvio padrão de qualquer amostra no Excel usando a função
desvpad.A. Mas vamos às contas: veja os
cálculos intermediários na tabela dada em seguida.
Cálculos intermediários para obtenção do desvio padrão
Sistematizando
os cálculos para obter o desvio padrão de uma amostra de 5 (ou, mais
genericamente, n) medições:
1. Some
todos os resultados e divida por 5, para obter a média aritmética.
2. Subtraia
a média de todos os resultados, para obter os 5 desvios em relação à média.
3. Eleve os
5 desvios ao quadrado e some.
4. Divida
essa soma por 5-1=4.
5.
Extraia a raiz quadrada.
É comum escrever a formula do
desvio padrão como segue:
A fórmula (3) parece mais difícil do que a fórmula
(2), mas é mais fácil de aplicar para quem usa uma calculadora. Veja os cálculos intermediários
na tabela abaixo.
Cálculos intermediários para obtenção do desvio padrão
Quando se apresenta a fórmula do desvio padrão para uma amostra, sempre
surge a pergunta: por que dividir a soma dos quadrados dos desvios por n-1 e não por n? Há demonstrações teóricas de que a correção é necessária, mas há
uma explicação intuitiva.
Se a natureza do experimento permitir uma só medição - por exemplo, imagine que você
tomou nas mãos um cronômetro para medir o tempo de queima de uma vela - o
resultado obtido é a melhor estimativa para o tempo de queima da vela. E esse valor único é a média. Não
há, porém, possibilidade de estimar a dispersão dos desvios da média. Reveja
novamente a fórmula para calcular o desvio padrão: se n=1, n-1=0. O divisor zero torna impossível estimar a dispersão dos desvios. O valor n-1 é chamado graus de liberdade.
O desvio padrão é uma medida da dispersão dos resultados das medições.
Para visualizar que o desvio padrão mede a dispersão, é melhor ver um exemplo. Imagine
então que dois amigos seus resolveram medir, também, o tempo de oscilação do
mesmo pêndulo. O Amigo Nº 1 obteve
3,7;
3,6; 3,9; 3,5; 3,3
O Amigo
Nº 2 obteve
4,0;
3,5; 3,7; 3,2; 3,6
As
médias e os desvios padrões, para os três, você e seus amigos 1 e 2, estão na
tabela dada em seguida. Os resultados das medições estão apresentados em
gráfico, logo abaixo e permitem melhor visualização da dispersão. Note que quanto
maior é a dispersão, maior é o desvio padrão.
Médias e desvios padrões para as três séries de medições
Distribuição das três séries de medições
A
avaliação tipo A da incerteza da medição, que usa o desvio padrão em seu
cálculo, será tratada em outra postagem.
NOTA
1. O exemplo do
cronômetro é de Physics Laboratory Tutorial : Error Analysis - Columbia ...
EXERCÍCIOS
1. Calcule a média e o desvio padrão do resultado de
cinco medições de uma peça, que forneceu os seguintes valores, em milímetros:
200,1; 200,5; 200,3; 200,2;
200,4.
2. Foram enviadas oito amostras de um mesmo produto que
continha 10,5% de K2O para oito
laboratórios diferentes. Cada laboratório fez uma determinação da porcentagem
de K2O no produto. Calcule a média e a desvio padrão. As
determinações são dadas em seguida.
10,8; 11,2; 10,5; 11,0; 10,9; 11,1; 10,8; 10,7.
3. Para
estabelecer a capacidade de perfuração de uma perfuradora hidráulica em
estruturas rochosas, foi feito um experimento. Tomaram-se medidas da
profundidade (em polegadas) da perfuração feita em 10 locais. Os dados estão na
tabela dada abaixo. Calcule a média e a desvio padrão.
Resultados do experimento para medir a capacidade de perfuração de uma perfuradora hidráulica
RESPOSTAS
2 comments:
No exercício 1 está sendo utilizado n e não n-1, não entendi
Entendeu, sim. Estava errado. O divisor é n-1=4, como você bem notou. Obrigada
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