Fiz
uma tradução (liberal) de um texto que merece ser lido. O original,
de Einstein e colaboradores, você
encontra em:
Einstein, A. "Induction
and Deduction in Physics" [2] The Collected Papers of Albert Einstein
Translation Volume 7 Princeton University Press, 2002
Published in: Berliner Tageblatt, p. [1] of 4. Beiblatt. December, 25th, 1919.
A ideia mais simples que se pode fazer
sobre a criação de uma ciência empírica é considerando as normas do método
indutivo. Fatos individuais são selecionados e agrupados de maneira que sua
conexão, por meio de leis, fique evidente. Ao agrupar essas leis, é possível inferir
outras leis, mais gerais, até que seja estabelecido um sistema mais ou menos análogo
para os fatos individuais disponíveis – mas de tal maneira que o
intelecto, olhando para trás, possa retornar, mentalmente, aos fatos
individuais.
No entanto, um simples olhar mostra que foram poucos os grandes
avanços no conhecimento científico que surgiram dessa maneira. Se um
pesquisador abordasse as coisas sem uma opinião preconcebida, como ele seria
capaz de escolher os fatos da tremenda riqueza das experiências mais
complicadas que são, no entanto, suficientemente simples para revelar suas
conexões através de leis?
Galileu nunca teria encontrado a lei da queda livre dos
corpos sem uma opinião preconcebida, de que as situações, tais quais as
encontramos, são complicadas pelos efeitos da resistência do ar e, portanto,
que se deve focar nos casos em que esse efeito tem apenas influência
negligenciável. Os verdadeiros grandes avanços em nossa compreensão da natureza
originaram-se de maneira quase diametralmente oposta à indução.
A compreensão
intuitiva do essencial, ou de um grande complexo de fatos, leva o cientista a
postular uma lei básica hipotética, ou várias leis básicas. A partir da lei básica (sistema de axiomas), ele deriva sua
conclusão da forma mais completa possível, de maneira puramente dedutiva. Essas conclusões, derivadas da lei básica
(e muitas vezes somente depois de desenvolvimentos e cálculos que demandam
tempo), podem então ser submetidas à experiência e dessa maneira fornecer
critérios para justificar a lei básica presumida.
Leis básicas (axiomas) e conclusões
juntas formam o que chamamos “teoria”. Os especialistas sabem que os maiores
avanços na ciência natural como, por exemplo, a teoria da gravitação de Newton,
a termodinâmica, a teoria cinética dos gases, a eletrodinâmica moderna etc. se
originaram dessa maneira, e sua base tem, em princípio, um caráter hipotético. Portanto,
embora o pesquisador sempre parta dos fatos, cujas conexões mútuas são seu
objetivo, ele não encontra seu sistema de ideias de maneira metódica e
indutiva; antes, ele se adapta aos fatos pela seleção intuitiva entre as
teorias concebíveis que são baseadas em axiomas.
Assim, uma teoria pode muito
bem ser considerada incorreta se houver um erro lógico em sua dedução, ou se
for considerada incorreta se um fato não estiver em consonância com uma de suas
conclusões. Mas a verdade de uma teoria nunca pode ser provada. Porque ninguém
nunca sabe se a experiência futura irá contradizer sua conclusão; além
disso, há sempre outros sistemas conceituais imagináveis que podem coordenar os mesmos fatos.
Quando duas teorias
estão disponíveis e
ambas são compatíveis com o dado arsenal de fatos, não há outros critérios
para preferir uma sobre a outra, além do olho intuitivo do pesquisador. Dessa
maneira, pode-se entender por que cientistas sagazes, conhecedores de duas
teorias ou fatos, podem ser apaixonados por seguidores de teorias opostas.
Ofereço ao leitor nestes tempos frenéticos uma reflexão pequena, objetiva e
desinteressada, porque acredito que a
devoção silenciosa aos objetivos eternos que são compartilhados por todos os
homens civilizados pode hoje servir à reconciliação política melhor do que
meditações políticas e credos (grifo nosso).
Nota: não constam as citações no texto da internet.
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