Monday, September 17, 2018

Einstein: induzir ou deduzir?



Fiz uma tradução (liberal) de um texto que merece ser lido. O original, 
de Einstein e colaboradores,  você encontra em:

Einstein, A. "Induction and Deduction in Physics" [2] The Collected Papers of Albert Einstein Translation Volume 7 Princeton University Press, 2002
Published in: Berliner Tageblatt,  p. [1] of 4. Beiblatt. December, 25th, 1919.


    A ideia mais simples que se pode fazer sobre a criação de uma ciência empírica é considerando as normas do método indutivo. Fatos individuais são selecionados e agrupados de maneira que sua conexão, por meio de leis, fique evidente. Ao agrupar essas leis, é possível inferir outras leis, mais gerais, até que seja estabelecido um sistema mais ou menos análogo para os fatos individuais disponíveis – mas de tal maneira que o intelecto, olhando para trás, possa retornar, mentalmente, aos fatos individuais.

    No entanto, um simples olhar mostra que foram poucos os grandes avanços no conhecimento científico que surgiram dessa maneira. Se um pesquisador abordasse as coisas sem uma opinião preconcebida, como ele seria capaz de escolher os fatos da tremenda riqueza das experiências mais complicadas que são, no entanto, suficientemente simples para revelar suas conexões através de leis? 

    Galileu nunca teria encontrado a lei da queda livre dos corpos sem uma opinião preconcebida, de que as situações, tais quais as encontramos, são complicadas pelos efeitos da resistência do ar e, portanto, que se deve focar nos casos em que esse efeito tem apenas influência negligenciável. Os verdadeiros grandes avanços em nossa compreensão da natureza originaram-se de maneira quase diametralmente oposta à indução.

     A compreensão intuitiva do essencial, ou de um grande complexo de fatos, leva o cientista a postular uma lei básica hipotética, ou várias leis básicas. A partir da lei básica (sistema de axiomas), ele deriva sua conclusão da forma mais completa possível, de maneira puramente dedutiva. Essas conclusões, derivadas da lei básica (e muitas vezes somente depois de desenvolvimentos e cálculos que demandam tempo), podem então ser submetidas à experiência e dessa maneira fornecer critérios para justificar a lei básica presumida.

     Leis básicas (axiomas) e conclusões juntas formam o que chamamos “teoria”. Os especialistas sabem que os maiores avanços na ciência natural como, por exemplo, a teoria da gravitação de Newton, a termodinâmica, a teoria cinética dos gases, a eletrodinâmica moderna etc. se originaram dessa maneira, e sua base tem, em princípio, um caráter hipotético. Portanto, embora o pesquisador sempre parta dos fatos, cujas conexões mútuas são seu objetivo, ele não encontra seu sistema de ideias de maneira metódica e indutiva; antes, ele se adapta aos fatos pela seleção intuitiva entre as teorias concebíveis que são baseadas em axiomas.

     Assim, uma teoria pode muito bem ser considerada incorreta se houver um erro lógico em sua dedução, ou se for considerada incorreta se um fato não estiver em consonância com uma de suas conclusões. Mas a verdade de uma teoria nunca pode ser provada. Porque ninguém nunca sabe se a experiência futura irá contradizer sua conclusão; além disso, há sempre outros sistemas conceituais imagináveis ​​que podem coordenar os mesmos fatos.

     Quando duas teorias estão disponíveis e ambas são compatíveis com o dado arsenal de fatos, não há outros critérios para preferir uma sobre a outra, além do olho intuitivo do pesquisador. Dessa maneira, pode-se entender por que cientistas sagazes, conhecedores de duas teorias ou fatos, podem ser apaixonados por seguidores de teorias opostas.

     Ofereço ao leitor nestes tempos frenéticos uma reflexão pequena, objetiva e desinteressada, porque acredito que a devoção silenciosa aos objetivos eternos que são compartilhados por todos os homens civilizados pode hoje servir à reconciliação política melhor do que meditações políticas e credos (grifo nosso).

Nota: não constam as citações no texto da internet.








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