As análises de variância (ANOVA) são muito
frequentes na literatura científica, sempre seguidas por testes de comparação
de médias. No entanto, é comum que os autores não expliquem por que escolheram
determinado teste nem mencionem as limitações associadas à escolha. Em muitos
trabalhos, o teste utilizado sequer é citado.
Neste post, trataremos das comparações a
posteriori (ou não planejadas, unplanned comparisons) de médias duas
a duas, utilizando testes paramétricos. Tais testes baseiam-se nas
distribuições t, F ou q (amplitude studentizada). Nenhum deles é
universalmente superior aos demais — cada um tem seus prós e contras.
O teste LSD de Fisher
O teste mais simples é o LSD de Fisher (least
significant difference), que utiliza a distribuição t com os graus
de liberdade do quadrado médio do resíduo da ANOVA. É um teste poderoso, mas
fixa o erro tipo I por comparação (comparisonwise Type I error rate).
Quando usado para múltiplas comparações entre grupos, o erro tipo I global
(experimentwise error rate) aumenta rapidamente.
Por isso, Fisher recomendou que o LSD fosse
aplicado apenas quando o teste F da ANOVA for significante — o chamado LSD
protegido.
Ajuste de Bonferroni
O ajuste de Bonferroni é uma forma simples e
conservadora de controlar o erro tipo I global. A ideia é a seguinte: se
há m comparações a serem feitas, e se desejamos manter o nível de
significância do experimento em α, então devemos aplicar cada teste com
um nível de significância α/m.
Exemplo ilustrativo
Considere três grupos: A, B e C. As comparações possíveis são:
· A × B
· A × C
· B × C
Total: m = 3 comparações.
Se o nível de significância do experimento é α = 0,05, então cada comparação deve ser testada com
αajustado = α/m = 0,05/3 ≈ 0,0167.
Com isso, garantimos que a probabilidade de
cometer pelo menos um erro tipo I em todas as comparações será, no máximo, α.
Como aplicar o teste de Bonferroni
1. Calcule o número total de comparações m=k(k−1)2,
onde k é o número de grupos.
2. Determine o nível ajustado de significância:
3. Realize os testes duas a duas, usando esse
novo nível de significância.
4. Compare as diferenças entre as médias:
considere significativas aquelas cujos valores absolutos ultrapassarem o limite
calculado.
Exemplo aplicado
A Tabela 1 apresenta os dados de um ensaio fictício
com seis tratamentos, medindo a redução da pressão arterial (em mmHg) ao longo
do tempo.
Tabela 1. Diminuição da pressão arterial segundo o
tratamento
A análise de variância desses dados resultou
em um F significante (ver Tabela 2), indicando diferenças entre as
médias.
Tabela 2. Resultados da ANOVA
Como o F foi significante, procedemos às comparações duas a duas pelo teste de Bonferroni. Para k = 6, o número de comparações possíveis é
Com α = 0,05, o nível de significância por comparação será:
A Tabela 3 apresenta as comparações de médias
duas a duas, com asterisco (*) indicando diferenças significantes no nível de
significância ajustado. Veja também a Figura 1, que ajuda na percepção das diferenças.
Tabela 3. Comparação de médias pelo teste de Bonferroni
Figura 1. Comparação de médias pelo teste de Bonferroni
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