Wednesday, November 11, 2015

Ensaio clínico ou estudo clínico?

De acordo com o NIH, um ensaio clínico é uma pesquisa em que:

  1. Um ou mais participantes humanos são
  2. Designados prospectivamente
  3. Para uma ou mais intervenções (podendo incluir placebo ou controle)
  4. Com o objetivo de avaliar efeitos sobre desfechos biomédicos ou comportamentais relacionados à saúde

📄 Fonte: NIH's Definition of a Clinical Trial

 E o que é um estudo clínico?

Um estudo clínico é uma pesquisa envolvendo voluntários humanos (ou “participantes”) que visa contribuir para o conhecimento médico.
Há dois tipos principais:

  • Estudos intervencionais (ensaios clínicos)
  • Estudos observacionais (sem intervenção, apenas coleta de dados)

📄 Fonte: ClinicalTrials.gov – Glossário


📘 Termos importantes

  • Pesquisa: investigação sistemática planejada para desenvolver ou contribuir com conhecimento generalizável.
  • Participante humano: pessoa viva da qual o pesquisador obtém dados diretamente ou por informações identificáveis.
  • Designação prospectiva: alocação planejada dos participantes aos grupos do estudo (intervenção, controle, etc.).
  • Intervenção: ação ou processo avaliado no estudo (medicamentos, dietas, terapias, técnicas, etc.).
  • Resultado biomédico ou comportamental: mudança mensurável relacionada à saúde (física, psicológica ou de qualidade de vida).

💡 Uma definição mais ampla de intervenção inclui qualquer manipulação do participante ou de seu ambiente com o objetivo de modificar um processo de saúde ou comportamento.


🧭 Como distinguir estudo clínico de ensaio clínico?

 O NIH sugere que o pesquisador responda às quatro perguntas abaixo:

  1. O estudo envolve participantes humanos?
  2. Os participantes são prospectivamente designados para uma intervenção?
  3. O estudo foi projetado para avaliar os efeitos da intervenção?
  4. O efeito medido é um desfecho biomédico ou comportamental relacionado à saúde?

Se a resposta a todas as perguntas for sim, o estudo atende à definição de ensaio clínico — mesmo que:

  • Envolva apenas participantes saudáveis;
  • Não tenha grupo de comparação (apenas um braço);
  • Avalie somente farmacocinética, segurança ou dose tolerada;
  • Envolva apenas intervenções comportamentais;
  • Apenas um objetivo do estudo se encaixe nessa definição;
  • O estudo envolva risco mínimo.

  O que não é considerado ensaio clínico?

  • Estudos que apenas refinam instrumentos de medida
  • Pesquisas baseadas exclusivamente em análise secundária de dados ou amostras biológicas

 





Sunday, November 08, 2015

Probabilidade: um problema com variável aleatória contínua


  Modelos de probabilidade são representações matemáticas de ensaios aleatórios. Descrevem os resultados possíveis (eventos) dos ensaios aos quais se referem e fornecem as probabilidades associadas a todos esses eventos.
 Considere o jogo de uma moeda, exemplo comum nos textos de estatística. Nesse caso, os eventos possíveis são dois: cara e coroa (ou sim e não, ou 0 e 1). A cada um desses eventos está associada probabilidade ½ (considerando que a moeda é bem balanceada).
 Todo fenômeno probabilístico tem, portanto, um evento (E) como resultado e o conjunto de eventos possíveis constitui o espaço (S), que tem probabilidade igual a 1. Logo, probabilidade varia entre zero e 1, inclusive.
Os cursos de introdução à teoria de probabilidades limitam-se aos exercícios com modelos discretos, como bolas de urna e número de filhos. No entanto, em muitas aplicações práticas as variáveis ​​aleatórias são contínuas.  São exemplos: a altura das pessoas, o tempo de vida de uma bateria, a quantidade de chuva por mês em determinada cidade, o tempo até a ocorrência da próxima erupção de um vulcão e assim por diante.
 Os exemplos pretendem deixar claro que as variáveis ​​aleatórias discretas só podem assumir número discreto de valores, enquanto as variáveis ​​aleatórias contínuas assumem qualquer valor num dado intervalo. Portanto, só faz sentido falar sobre a probabilidade de uma variável aleatória contínua quando o valor da variável está definido dentro de algum intervalo. É o que acontece quando se estuda a distribuição normal.
   O estudo de probabilidades de modelos contínuos difere do estudo de probabilidades em que os eventos são discretos. Não se contam eventos, mas se associa medida 1 ao espaço (S) e se faz a medição do espaço do evento E dentro do espaço S. Um exemplo clássico ilustra bem essa questão.
Exemplo
Dois amigos combinam um encontro em determinada hora, mas cada um poderá chegar ao local com até uma hora de demora. Quem chegar em primeiro lugar espera pelo outro por ¼ de hora e irá embora se o outro não chegar nesse quarto de hora. Nenhum deles chegará antes da hora, nem chegará depois de uma hora da hora marcada. Qual é a probabilidade de eles se encontrarem?
    Pense o espaço (S) como um quadrado de área igual a 1, no sistema de eixos cartesianos. Vamos representar, no eixo das abscissas, os tempos em que um dos amigos pode chegar e no eixo das ordenadas os tempos em que o outro pode chegar. Veja a figura. O evento (E) de interesse, isto é, que os dois amigos se encontrem, exige que estejam no local nos intervalos de ¼ de hora que um deve esperar pelo outro. Na figura abaixo, esse evento é a área escurecida.

O espaço (S) tem medida 1. Na figura, é fácil ver que os dois triângulos claros têm medidas iguais. A área de um triângulo é dada por:

                  Dois triângulos, juntos, têm área:

        Então a probabilidade de os amigos se encontrarem é:

         Veja:

1.Dimitri B. Bertsekas e John N Tsitsiklis. Introduction to probability. Cambrige, Mass.www.math.unibielefeld.de/.../Introduction%20to%20probability.pdf

 

   2.Henk Tijms. Vrije Understanding Probability. Third edition, Cambridge University Press. University, Amsterdam. 2007. personal.vu.nl/h.c.tijms/ContentsUP3ed.pdf

                                                       




Saturday, November 07, 2015

Ética e Planejamento em Estudos Clínicos: Você Precisa Saber

Estudos clínicos são pesquisas feitas com seres humanos. Embora existam experimentos semelhantes realizados com animais ou plantas, os estudos com pessoas exigem cuidados éticos especiais. A principal diferença é que ninguém pode ser incluído em um estudo clínico sem dar seu consentimento livre e esclarecido. Mesmo depois de aceitar, o participante pode desistir a qualquer momento, sem sofrer nenhum tipo de prejuízo.

A Ética Vem Primeiro

Existem regras e princípios rigorosos que orientam como esses estudos devem ser conduzidos. Falhas em aspectos como:

·  seleção adequada dos participantes (critérios de elegibilidade),

·  cálculo do número de pessoas que devem participar (tamanho da amostra),

·  equilíbrio entre os grupos a serem comparados,

·  avaliação correta dos resultados (desfechos),

...podem comprometer o estudo inteiro. E mais grave ainda: a falta de ética é inaceitável.

Quem Regula os Estudos no Brasil?

No Brasil, o órgão responsável por estabelecer essas normas é o Conselho Nacional de Saúde (CNS), ligado ao Ministério da Saúde. As principais diretrizes estão na Resolução CNS nº 466/2012, que atualiza a conhecida Resolução CNS nº 196/96 — essa última foi um marco regulatório importante, por isso ainda é bastante citada e conhecida como “um-nove-meia”.

Participante, Não Sujeito

A pessoa que participa da pesquisa é chamada de participante de pesquisa, e não mais "sujeito", termo considerado inadequado por sugerir submissão.

Passo a Passo de um Estudo Clínico

1.     Protocolo de pesquisa: tudo começa com a elaboração de um documento que define como o estudo será feito.

2.     Comitês de ética: antes de começar, o protocolo precisa ser aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Em alguns casos, é também necessária a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

3.     Consentimento informado: todo participante deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que explica os riscos, benefícios e direitos da pessoa no estudo.

4.     Tamanho da amostra: o número de participantes deve ser calculado com base em critérios estatísticos, prevendo até mesmo perdas ao longo do estudo (como desistências).

5.     Critérios de elegibilidade: o estudo só pode incluir pessoas que atendam a critérios bem definidos, avaliados em uma triagem.

6.     Recrutamento e matrícula: depois da triagem, os participantes são recrutados e, se concordarem e assinarem o TCLE, são matriculados.

7.     Período introdutório (run-in): antes de começar o estudo de fato, existe um período para confirmar se a pessoa realmente se encaixa nos critérios. Quem não atende, é excluído. Os dados dessa fase não entram na análise final.


Referências

1.    Ver: htpp://conselho.saude.gov.br. Acesso em 18 de novembro de 2013.
2.    No uso da competência que lhe é outorgada pelo Decreto n° 93.933 de 14 de janeiro de 1987.
3.    Ver: htpp://conselho.saude.gov.br.br/resolucoes/2012/Reso466. Acesso em 18 de novembro de 2013
4.    Ver: htpp://conselho.saude.gov.br.br/23_out_versao_final_196_ Acesso em 18 de novembro de 2013
5.    Andrade, SMO. Resolução nº 466/12 e Resolução nº 196/96: elementos diferenciais. Campo Grande, junho de 2013. www.uems.br/conselhodeetica/arquivos/19. Acesso em 23 de junho de 2014.