Tuesday, October 20, 2015

Medições, Precisão e Algarismos Significativos: O Que Você Precisa Saber

A maioria das pessoas pressente apenas vagamente que medições têm precisão limitada. Mas poucos compreendem bem o que significa precisão em uma medição.

                                  📌 O que é precisão?

A precisão de uma medida está relacionada ao número de algarismos significativos ou de casas decimais usados para expressar o resultado. Mesmo com todo o cuidado, ninguém pode medir com mais precisão do que permite o instrumento utilizado — ou as condições em que a medição é feita.

                          Um exemplo curioso: três pessoas

                                  e uma folha de papel

Suponha que três pessoas tenham usado uma régua de plástico comum para medir uma folha de papel. Veja os resultados:

·   Pessoa A: 23 cm × 16 cm → área = 368 cm²

·   Pessoa B: 23,3 cm × 16,2 cm → área = 377,46 cm²

·    Pessoa C: 23,28 cm × 16,17 cm → área = 376,4376 cm²

                         Qual delas fez a melhor medição?

Se a régua usada é de plástico, com marcações apenas em centímetros, dificilmente se pode estimar com confiança décimos — quanto mais centésimos! Assim:

·   A medida da Pessoa C é claramente exagerada: não se pode confiar em tantos dígitos.

·    A da Pessoa B é duvidosa: será mesmo possível ler décimos com essa régua?

·     A medida da Pessoa A é a mais honesta — e, portanto, a mais confiável.

 

Lição importante: O número de casas decimais ou algarismos significativos deve refletir a capacidade real do instrumento de medida.

                      📌 Como indicar a incerteza de uma medição?

Quando dizemos que algo mede 15,4 cm, estamos afirmando que a medida real está entre:

                      15,35 cm e 15,45 cm.

Isso equivale a escrever:

                       (15,4 ± 0,05) cm

A notação deixa claro que a precisão é limitada, e ajuda a evitar interpretações equivocadas.

                     📌  O que acontece ao multiplicar medidas?

Muita gente acredita que multiplicar números com várias casas decimais dá um resultado automaticamente mais preciso. Mas isso é um engano.

                                                   Exemplo

Um retângulo mede 13,3 ± 0,2 cm de comprimento e 6,2 ± 0,2 cm de largura. Qual é a área?

·       Valor mínimo: 13,1 cm × 6,0 cm = 78,6 cm²

·       Valor máximo: 13,5 cm × 6,4 cm = 86,4 cm²

·       Média dos dois extremos: 82,5 cm

·       Metade da variação: ± 3,9 cm²

Resultado final: (82,5 ± 3,9) cm²

               📌 Algarismos significativos: o jeito mais prático

Se o cálculo for feito levando em conta os algarismos significativos, tudo fica mais simples.

Por exemplo:

·       5 cm → 1 algarismo significativo

·       5,0 cm → 2 algarismos

·       5,00 cm → 3 algarismos

                                                   Questão

Um retângulo mede 123,3 cm × 46,2 cm. Quantos algarismos significativos deve ter a área?

·         O produto é 5.696,46 cm².

·         Como 46,2 tem apenas 3 dígitos significativos, o resultado também deve ter 3 dígitos significativos.


Resultado final: 5.700 cm² (com três algarismos significativos).

Mas cuidado: o número 5.700 não mostra, por si só, quantos algarismos significativos tem. A notação científica ajuda muito nesses casos.

  0,570 m² deixa claro: são três dígitos significativos.

 📌E números como 5000, quantos algarismos significativos têm?

Difícil dizer. A não ser que esteja em notação científica, o número pode ter 1, 2, 3 ou 4 algarismos significativos.

·       5 × 10³ → 1 algarismo significativo

·       5,0 × 10³ → 2

·       5,00 × 10³ → 3

·       5,000 × 10³ → 4

Sem isso, só é possível esclarecer por extenso:“5000 cm, com três dígitos significativos”.  



Wednesday, October 14, 2015

O que é estudo de caso?

     

É comum conceituar estudo de caso como o relato sobre uma única pessoa (um “caso clínico” como aqueles descritos por Freud), uma instituição (como um hospital), um programa (como o Bolsa Família) ou um evento (a eleição do reitor de uma universidade). Esses estudos tratam fenômenos singulares ou originais – e não devem ser meras entrevistas de algumas pessoas às quais o pesquisador tem acesso.

No estudo de caso, o pesquisador se propõe a apresentar uma situação ou condição singular ou original, em profundidade e no contexto da vida real.

Para fazer um estudo de caso, é preciso estabelecer objetivos, justificativa e apresentar a literatura de apoio. Ainda é importante estabelecer os limites de busca como, por exemplo, período de tempo coberto pelo estudo, lugar ou espaço geográfico em que serão feitas as observações e as evidências que serão coletadas.

 

Mas todo estudo de caso começa, necessariamente, com a definição do caso a ser estudado. Se o caso foi selecionado não por ser representativo de outros casos, mas porque é único, dizemos que é um caso intrínseco.

Exemplo

Foi conduzido um estudo de caso1 intrínseco para estudar um casal de velhos dementes, com a finalidade de entender o impacto da demência sobre a vida diária deles e de seus parentes.

 

Se o caso for selecionado por ser “típico”, o que permite ao pesquisador estudar mais o fenômeno do que o caso em si, dizemos que é um caso instrumental. Se forem estudados vários casos, cuidadosamente selecionados, estamos diante de um caso coletivo ou casos múltiplos.

Exemplo

Para mais bem entender as representações sobre ensino de estatística2, foi conduzido um estudo de caso instrumental entrevistando professores de estatística da Unicamp.

 

  Os estudos de caso ainda podem ser3:

·              Descritivos

·              Explicativos

·              Exploratórios

                                      Estudos descritivos

Objetivo: Relatar um ou mais exemplos que bem ilustrem uma situação, tornando o tema mais familiar para o leitor.

Justificativa: fornece subsídios necessários para discutir o tema na situação.

                                        Exemplo

Objetivo: foi conduzido um estudo descritivo para descrever a tomada de decisão de um grupo de estudantes de enfermagem em situação clínica4.

Justificativa: seria impossível para o autor ter uma descrição correta da tomada de decisão de estudantes de enfermagem sem considerar o contexto em que ocorria (a escola, a situação clínica e o ambiente de aula).

                                        Estudos explicativos    

                                          

Objetivo: apontar aspectos embutidos no fenômeno, esclarecendo situações, agregando informações de várias fontes, obtidas em tempos diferentes.

Justificativa: quando se olha apenas um caso, nem sempre o leitor consegue ver o todo contexto em que o fenômeno se insere. 

                                             Exemplo

Objetivo: foram examinadas 158 publicações científicas de autores brasileiros para determinar o quanto obedeciam às diretrizes internacionais e às normas nacionais para condução de pesquisas em seres humanos5.

Justificativa: os achados mostraram a necessidade de os trabalhos publicados mais bem informar a participação efetiva de cada autor na pesquisa, relatar a fase da pesquisa, descrever o local da pesquisa, informar patrocínio e indicar o número total de participantes no Resumo.

 

Estudos exploratórios

Objetivo: buscar conhecimento sobre um tema sobre o qual não existam teorias. É verdadeira caça às informações que possam trazer entendimento sobre o tema.

Justificativa: balizar novos estudos e ajudar a formular hipóteses. 

 Exemplo

Objetivo: Foi feito um estudo exploratório para levantar os procedimentos que poderiam despertar o interesse dos estudantes de um colégio para os computadores do laboratório da instituição6.

Justificativa: Fornecer aos pesquisadores informação que os ajude a formular hipóteses iniciais sobre as características e os interesses dos usuários desse serviço.

          Referências

 

1.      Hellström I, Nolan M, Lundh U: 'We do things together': A case study of couplehood' in dementia. Dementia 2005, 4:7-22. 

 

2.         Wada, Ronaldo Seichi. Estatística e ensino: um estudo sobre representações de professores do 3º grau. Campinas: FE/Unicamp, 1996. Tese de Doutorado. Orientador: Maria José Pereira Monteiro de Almeida.

3.         Yin R: Case study research: design and methods. 2nd edition. Thousand Oaks, CA: Sage Publishing; 1994. Descrição: OpenURLIn: Baxter, P. e Jack, S. Qualitative case study methodology: study design and implementation for novice researchers. The Qualitative Research. Volume 13. Number 4.December 2008. 544-559.

 

4.       Baxter, P e Jack, S. Qualitative Case Study Methodology: Study Design and Implementation for Novice Researchers The Qualitative Report Volume 13 Number 4 December 2008 544-559 http://www.nova.edu/ssss/QR/QR13-4/baxter.pdf

 

5       Pauli, Claudionei Cella. Análise, à luz da Bioética, do perfil das publicações

6.        Publicações científicas de autores brasileiros, antes e após a homologação das diretrizes éticas referentes à pesquisa clínica (Ensaios) no Brasil [dissertação]. São Paulo: Centro Universitário São Camilo; 2013.

7.        Lettyann.Exploratory Research and Descriptive http://lettyann.hubpages.com/hub/Exploratory-Research-and-Descriptive-Research