Em pesquisas biológicas, agronômicas e clínicas, frequentemente nos deparamos com experimentos nos quais a mesma unidade experimental é medida múltiplas vezes, ou diferentes partes da mesma unidade recebem tratamentos distintos. Essas estruturas violam a pressuposição de independência das observações, exigindo abordagens estatísticas específicas.
Quando o problema surge
Considere um ensaio clínico cruzado (crossover) para avaliar três tratamentos para arritmia cardíaca. Cada participante recebe todos os tratamentos em sequência aleatória, com períodos de "washout" entre eles para evitar efeito residual (carry-over effect). Cada participante funciona como um bloco.
Situações mais complexas envolvem dois níveis de tratamento: grupos de unidades recebem tratamentos principais, enquanto cada unidade recebe diferentes tratamentos secundários.
Exemplo prático: Estudo com tomateiros
Imagine 30 tomateiros (parcelas) randomizados para
5 fórmulas de fertilizantes (tratamentos principais). Cada tomateiro recebe
dois regimes de irrigação (tratamentos secundários) em períodos distintos:
O modelo split-plot: quando as
parcelas são heterogêneas
O delineamento em parcelas subdivididas (split-plot design) é
apropriado quando existe variabilidade natural entre as unidades experimentais
(parcelas). Este modelo explicitamente considera dois níveis de erro:
o Erro (a): Variabilidade entre parcelas dentro do mesmo tratamento principal
o Erro (b): Variabilidade dentro das parcelas (entre subparcelas)
Modelo estatístico:
Em situações onde as parcelas podem ser
consideradas perfeitamente homogêneas, o modelo hierárquico (aninhado) é mais
apropriado.
Exemplo: Avaliação da qualidade do café de quatro procedências diferentes.
De cada procedência, amostramos quatro sacas, e de cada saca realizamos três
análises laboratoriais:
Pressuposição crítica: o café dentro de sacas da
mesma procedência é homogêneo.
Modelo estatístico:
variância s2.
Tabela Comparativa: Split-Plot
vs. Hierárquico
Conclusões Práticas
1. Escolha o
split-plot quando suas parcelas são
unidades biológicas ou experimentais naturalmente variáveis (animais, pessoas,
plantas individuais, lotes de produção).
2. Prefira o
modelo hierárquico apenas quando houver
fortes evidências ou pressuposições válidas sobre a homogeneidade das parcelas
(ex.: alíquotas de uma mesma solução, subamostras de material homogêneo).
3. Atenção! A aplicação incorreta do modelo hierárquico a
dados com variabilidade entre parcelas resulta em subestimação da
variância e testes falsamente significativos.
Considerações Finais
A escolha entre esses modelos não é apenas técnica,
mas conceitual. Ela reflete nosso entendimento sobre a natureza do material
experimental e a estrutura de variação presente nos dados. Quando em dúvida, o
modelo split-plot é geralmente mais conservador e apropriado, pois não assume
homogeneidade onde ela pode não existir.
Nota sobre os testes F: No split-plot, o teste para tratamentos principais usa o Resíduo (a) como denominador, enquanto os testes para tratamentos secundários e interação usam o Resíduo (b). Esta distinção é essencial para conclusões válidas.
Nota histórica: Esta discussão remonta a trabalhos clássicos da estatística
experimental, mas permanece surpreendentemente relevante na era dos modelos
mistos e das análises multimível.
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