O mundo está gerando uma quantidade crescente de dados a uma velocidade cada vez maior. No entanto, como observou o New York Times, 'dados são apenas a matéria-prima do conhecimento'. A estatística é a ferramenta mais poderosa para transformar essas informações em insights valiosos, seja para identificar jogadores de futebol subestimados ou para promover uma remuneração mais justa aos professores.
Charles Wheelan
A palavra Estatística está associada à
ideia de "coleção de números". No entanto, não se coletam números
apenas para armazená-los: eles são utilizados para a tomada racional de
decisões. Não é, porém, "torturando" os números que se obtêm
respostas confiáveis. É necessário "dialogar" com eles, analisando-os
cuidadosamente para deles tirar conclusões fundamentadas.
Artistas e produtores de rádio e televisão
monitoram estatísticas de audiência com atenção redobrada. Quando um
programa alcança o "horário nobre" — período em que os números
indicam maior quantidade de espectadores —, o preço da propaganda aumenta.
Consequentemente, também sobem os salários de artistas e produtores. Mas se o
programa perde popularidade, ele pode ser retirado do ar.
A Polícia Rodoviária monitora estatísticas de
trânsito, fundamentais para organizar o policiamento. Mas não basta contar
o número de mortos e feridos; é necessário estruturar os dados de forma a
identificar em quais pontos, dias ou épocas do ano os acidentes ocorrem com
maior frequência. Com base nessas análises, tomam-se decisões estratégicas,
como instalar radares nos trechos das estradas com maior índice de acidentes destacar
mais policiais para as áreas consideradas de risco, nos horários de pico e em dias
de trânsito intenso.
As estatísticas de exames vestibulares também
geram muita especulação. Contudo, para o jovem que deseja ingressar em uma
universidade, o dado mais relevante é o número de candidatos por vaga. Essa
estatística oferece uma ideia clara sobre a probabilidade de aprovação.
Jornais e políticos observam com muito interesse estatísticas de opinião pública, pois só assim eles podem saber o percentual de pessoas que aprova o governo ou como anda a popularidade do Presidente da República. Os dados precisam ser analisados com rigor para que as informações apresentadas ao público sejam corretas e permitam a necessária discussão sobre temas de interesse.
A Estatística também abrange o cálculo de taxas,
índices e coeficientes. Você certamente já ouviu falar em índice de inflação, taxa
de evasão escolar ou taxa de mortalidade infantil. Mas o trabalho dos
estatísticos vai além disso: eles participam do planejamento de experimentos.
Por exemplo: existe um bom creme antirrugas? Um robô pode ajudar no aprendizado de uma língua estrangeira? A
vacina desenvolvida por determinada empresa é eficaz? Para responder a
perguntas como essas, é necessário realizar experimentos. Nesse contexto, o
estatístico desempenha um papel crucial ao planejar o experimento, analisar os
dados e auxiliar na interpretação dos resultados.
A grande importância da Estatística reside em seu amplo campo de aplicação. Ela é utilizada em áreas tão diversas como estudos sobre DNA ou sobre as probabilidades relacionadas aos jogos de loteria. Assim, a Estatística oferece condições para responder a diversas perguntas, como estas, por exemplo:
- Como alguém sabe se
precisa ou não perder peso?
- Qual é a maior cidade do
Brasil?
- Fumar faz mal à saúde?
- A temperatura no mundo
está aumentando?
- Escovar os dentes previne
cáries?
- Como se conhece o efeito
de um anestésico?
- Machado de Assis usava
poucos adjetivos?
- Por que os motoqueiros
precisam usar capacete?
- Os
alimentos transgênicos são mais nutritivos?
Alguns profissionais afirmam, com ênfase, que
sabem tudo o que precisam para exercer suas atividades porque possuem experiência.
Contudo, experiência por si só não basta. As mulas do exército de
Napoleão tinham experiência de guerra, pois participaram de muitas batalhas,
mas continuavam sendo mulas. Para crescer profissionalmente, a experiência
precisa ser constantemente contestada e complementada com novas informações
adquiridas por meio de aulas, congressos, livros, artigos, pesquisas – e estatísticas.
Apesar disso, muitas pessoas ainda desconfiam de
estatísticas, como sugere a famosa frase irônica que atravessou os séculos: “Existem
mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.” A afirmação ressoa
porque evidencia o poder persuasivo dos números, ao mesmo tempo em que destaca
a tendência de algumas pessoas em desacreditar estatísticas quando elas
contrariam suas convicções. No entanto, quem se apoia apenas na retórica é
ainda mais facilmente enganado. Por isso, aprenda estatística.
Muitos cometem o erro elementar
de duvidar dos resultados das estatísticas. Devemos duvidar dos métodos de
coleta, dos procedimentos de análise e das interpretações. De resto, boa parte
da formação científica consiste em aprender a desconfiar e a encontrar erros
nessas etapas. Contudo, se não somos capazes de detectar vícios nos processos
usados, não podemos recusar os resultados. Pena que essa disciplina
intelectual seja mais difícil do que dar palpites sobre o que não
se estudou e ainda menos se aprendeu.
Cláudio
de Moura Castro
1 comment:
Explicação bem clara e didática sobre as atividades corriqueiras do profissional de estatística, essencial essa visão introdutória da área.
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