Nos questionários com questões abertas - as chamadas pesquisas espontâneas nas
prévias eleitorais - você não sugere qualquer tipo de
resposta. A pessoa usa suas próprias palavras para responder às suas questões.
Podem surgir assim ideias que você próprio não teve, quando elaborou o
questionário. Nas pré-campanhas para
eleições, pesquisas espontâneas são muito
utilizadas porque elas mostram, principalmente, a lembrança que
o eleitor tem de um político e mede, assim, o potencial de votos que esse
político teria para concorrer a um cargo.
Se
você quiser fazer questões abertas na pesquisa que está planejando, pense como
você próprio responderia cada uma das questões. Perceba se as respostas podem
ser longas. Se for este o caso, é importante delimitar o espaço para a escrita,
no caso dos questionários de auto aplicação, ou o tempo de exposição, no caso de
entrevistas.
Questão:
Para que time de futebol você torce?
_________________________________________
Exemplo de resposta que pode ser longa
Questão:
Por que o
senhor decidiu comprar este carro?
________________________________________________
A vantagem óbvia
da questão aberta é conseguir respostas que em geral refletem, de fato, a opinião do
respondente. Você pode receber respostas inesperadas, que ajudarão a entender o
assunto que você está estudando. Mas pode não receber resposta ou receber resposta ofensiva ou malcriada.
As dificuldades ficam por conta da pergunta e da análise dos dados coletados. Nem sempre o entrevistado sabe a resposta, ou quer dizer a verdade. Em certas circunstâncias - como no local de trabalho ou com testemunha em um inquérito policial - o respondente pode ter medo de responder. E não se esqueça que fazer entrevistas exige empatia - o respondente pode simplesmente "não ir com a sua cara".
No caso de pesquisas abertas, não é fácil tabular os
resultados e nem sempre pode ser feita uma análise estatística. Isto significa despender
muito mais tempo e dinheiro com a análise de questões abertas do que com questões
fechadas (1).
As respostas às
questões abertas devem ser analisadas por profissional especializado. De
qualquer forma, cabe aqui dar alguma noção de como isso é feito (2)
1.
Leia todas as
respostas.
2.
Anote as ideias
mestras descritoras do essencial nos depoimentos.
3.
Agrupe as ideias
que têm significado semelhante.
4.
Busque expressões
que descrevam cada uma das ideias mestras.
Exemplo
Questão: Que benefícios o curso trouxe para você?
Comentário: Se essa pergunta foi feita para 100 alunos no
final de um curso, seria preciso examinar pelo menos 40 questionários para ter ideia dos tipos de resposta que podem ser obtidos . Mas
imagine que as respostas de três alunos, designados por A, B, C, foram:
1.
Aluno A:
Oportunidade para conhecer colegas e superar minha dificuldade de trabalhar em
grupo.
2. Aluno B: Conheci
colegas e aprendi técnicas para melhorar minhas relações com os clientes.
3.
Aluno C: Gostei de
trabalhar com o grupo.
Dessas três
respostas, você tira que foram assinaladas, pelos alunos, três benefícios do
curso:
2. Aprender participar de trabalhos em grupo.
3. Melhorar as
relações com clientes.
Exemplo
As doenças degenerativas provocam a degeneração
de todo o organismo. A artrite reumatoide (AR), também
conhecida como reumatismo deformante, é uma delas. Mas os médicos tendem a
cuidar do paciente e esquecer o impacto da doença na família. O artigo Family
Matters: The impact of RA on the partners and family members (3) chama a
atenção para a necessidade de olhar o entorno, a família, o trabalho, os amigos
do doente, apresentando os resultados de uma pesquisa com respostas
espontâneas. Veja alguns resultados de uma análise de conteúdo (4).
Impacto em filhos de pessoas com artrite
reumatoide
Filhos
relatam que é difícil ver o sofrimento do pai/da mãe no dia a dia, que sentem
ansiedade ao saber de novos tratamentos e que sofreram o impacto da doença na
tomada de decisão nas próprias vidas. Os que tinham menos de 18 anos por
ocasião do diagnóstico da doença em um dos pais lembraram que, quando crianças,
estavam sempre conscientes de que um de seus pais era doente; ficavam
amedrontados ou ansiosos; estavam sempre conscientes de que havia coisas que
não podiam fazer porque um de seus pais tinha artrite reumatoide.
Buscando
as “ideias mestras” nos relatos, foi possível obter algumas porcentagens:
assim, relataram que a doença de um dos pais afetou sua própria vida como
adulto 83% dos respondentes. Desses, relataram:
·
Preocupação com o pai ou mãe doente (85%)
· Escolhas diferentes sobre sua própria saúde e estilo de vida (44%)
· A doença de um dos pais foi fator decisivo para a escolha de onde
morar ou trabalhar (35%).
Pais de
pessoas com artrite reumatoide mostraram grande variação nas respostas, mas, em
geral, disseram sentir-se sobrecarregados. Eles relataram ansiedade
intensa, estresse e incerteza sobre o futuro desses filhos. Afirmaram sentir o
impacto emocional da doença em toda a família. Pais de crianças com artrite
reumatoide juvenil contam o impacto dessa doença nos outros filhos e relatam
ressentimento e culpa. Pais de filhos adultos ajudam os próprios filhos e as
famílias dos filhos, mas sentem que isso é muito pesado.
Vantagens
§ Indicam o nível de informação do respondente.
§ Podem trazer informação inesperada.
Os pesquisadores
da área qualitativa preferem as questões abertas. Eles enfatizam a relatividade
cultural do sentido das palavras – isto é, as palavras do respondente devem ser
entendidas com o significado que o respondente dá a elas. Ainda, o significado
dado a uma palavra em determinada situação pode ser bem diferente do
significado dado em outra situação (5).
As questões
abertas são muito úteis na “garimpagem”, gíria que os pesquisadores usam para
dizer que é preciso buscar, nas respostas dos respondentes, boas ideias para a
discussão do trabalho ou, até mesmo, novas pesquisas. As questões abertas são,
portanto, mais recomendadas nos estudos iniciais de certas áreas, porque ajudam
o pesquisador a desenvolver opções de resposta para questões fechadas em um
projeto maior.
Desvantagens
As questões abertas exigem reflexão para chegar a
uma resposta e podem, por conta disso, cansar ou desagradar o respondente, que
acaba desistindo de participar. Ainda, a análise dos dados é difícil.
Referências
1. O que é análise de conteúdo? https://www.blogger.com/blog/post/edit/24844129/7500330494802219092
2. Bioética - Universidade São Camilo. https://www.blogger.com/blog/post/edit/24844129/5158806926615870332
3. Survey 2012 - National Rheumatoid
Arthritis Society:
http://www.google.com.br/#sclient=psy-ab&hl=pt- Acesso
em junho de 2012.
4. O impacto da doença degenerativa na família. https://soniavieira.blogspot.com/2013/04/
5. Foddy, W. Constructing questions for interviews and questionnaires: Theory and
practice in social research. New York, Cambridge University Press. 1996.
p.126.