Sunday, December 05, 2021

Nível de significância ou p-valor?

    

Para entender a questão do p-valor, é preciso um pouco de história da Estatística. Existem duas escolas de pensamento sobre testes de significância. O primeiro foi popularizado por Ronald A. Fisher na década de 1920. Fisher via o p-valor não como uma parte de um procedimento formal para testar hipóteses, mas como um método informal de ver quão surpreendente pode ser um conjunto de dados. O p-valor, quando combinado com a experiência do pesquisador e seu conhecimento do assunto, pode ser útil para interpretar novos dados.

Depois que o trabalho de Fisher foi apresentado, Jerzy Neyman e Egon Pearson abordaram a questão de outra forma. É preciso lembrar que, em ciência, é importante limitar dois tipos de erros: falsos positivos, quando você acha que é real algo que não existe, e falsos negativos, quando você acha que algo que ocorre não é real.

Apenas como exemplo, considere um teste laboratorial para o diagnóstico de determinada doença. O teste pode apresentar dois tipos de erros: falso positivo, quando diz que o paciente é doente, mas não é; e falso negativo, quando diz que o paciente não é doente, mas é. Em Estatística, é convenção chamar o falso positivo de erro Tipo I e o falso negativo de erro tipo II.

📌 Erro Tipo I (falso positivo): quando você diz que um tratamento tem efeito (afirma) e esse tratamento não tem efeito.

📌Erro Tipo II (falso negativo): quando você diz um tratamento não tem efeito (nega) e esse tratamento tem efeito.

Falsos positivos e falsos negativos são erros, mas é totalmente impossível eliminá-los. Se você se precipitar querendo achar efeitos de tratamentos, estará propenso a obter mais falsos positivos (ou seja, mais erro Tipo I); se você for conservador, isto é, não se apressar em apontar efeitos de tratamentos, estará propenso a obter mais falsos negativos (ou seja, mais erro Tipo II).

Neyman e Pearson raciocinaram que, embora seja impossível eliminar totalmente os falsos positivos e falsos negativos, é possível desenvolver um processo de tomada de decisão que garanta que falsos positivos ocorrerão com probabilidade predefinida. Eles chamaram essa probabilidade de a (nível de significância) e sua ideia era que os pesquisadores definissem a com base em suas experiências e expectativas. Por exemplo, quem estiver disposto a tolerar uma probabilidade de 10% de falsos positivos, define a = 0,1. Mas se precisar ser mais conservador, pode definir a em 0,01 ou menos.

Como isso funciona na prática? No sistema de Neyman-Pearson, definem-se duas hipóteses: a hipótese de nulidade, isto é, uma hipótese de que determinado tratamento não tem efeito - bem como uma hipótese alternativa, de que o tratamento tem efeito. Escreve-se:

📌  H0: efeito do tratamento igual a zero

📌  H1: efeito do tratamento diferente de zero

Em seguida, é feito um teste estatístico para determinar a probabilidade de obter resultado igual ou maior do que o conseguido quando a hipótese da nulidade é verdadeira. Esse é o p-valor e o procedimento de Neyman-Pearson consiste em rejeitar a hipótese da nulidade sempre que p-valor < a.

Ao contrário do procedimento de Fisher, este método não usa, deliberadamente, a força da evidência obtida em um experimento em particular; decide, simplesmente, rejeitar ou não a hipótese da nulidade. O tamanho do p-valor não é usado para comparar experimentos, nem para tirar conclusões além de "A hipótese da nulidade deve (ou não) ser rejeitada.”.

Embora a abordagem de Neyman e Pearson seja conceitualmente diferente da de Fisher, os pesquisadores fundem as duas. A abordagem de Neyman e Pearson é onde obtemos "significância estatística", com um valor a pré-escolhido, que garante as probabilidades de falsos positivos no longo prazo. Mas suponha que você conduza um experimento e obtenha p-valor = 0,032. Se o seu limite for o convencional a = 0,05, você obteve um resultado estatisticamente significante. É tentador – embora esteja errado - dizer "A probabilidade de erro Tipo I é de 3,2%". Isso não faz sentido, porque um único experimento não determina uma probabilidade de erro Tipo I. Compare seu experimento com outros, vendo apenas o valor de a.

Quando se diminui um tipo de erro, aumenta-se o outro, considerando o mesmo problema, sendo resolvido pelo mesmo teste de significância. Mas há testes com mais poder do que outros. Denomina-se poder do teste a probabilidade de rejeitar a hipótese da nulidade quando ela é falsa. Então o melhor teste é aquele que tem a menor probabilidade de falsos negativos para uma determinada escolha de a.

🔔 NOTA: Esta postagem foi escrita com base em:

REINHART, A. Statistics doing wrong. San Francisco, No Starch Press. 2015.

 


Wednesday, December 01, 2021

Proteja Seu Dinheiro: O Que Você Precisa Saber Sobre Inflação e Juros

 

Juros são calculados com base no valor da dívida ou da aplicação, e seu valor se mantém constante dentro do período de aplicação ou da dívida. Portanto, é importante estar atento à unidade de tempo a que o juro se refere:

·     ⚠️ 3% ao mês durante um ano implica multiplicar 0,03 por 12.

·     ⚠️ 15% ao ano em um ano significa multiplicar 0,15 por 1.

                                                  🔴 Problema

Imagine que, no Ano Novo, você pediu um empréstimo de R$ 500,00 ao seu sogro, que cobra uma taxa de juros de 3% ao mês. Você deseja o empréstimo por um ano, ou seja, até o próximo Ano Novo. Qual será o montante da dívida ao final do ano? Quanto de juros você pagará?

                              Cálculo do montante da dívida e dos juros

Primeiramente, converta a taxa de juros de porcentagem para decimal: TNJ = 0,03.Agora, vejamos os valores a serem pagos.

                    Tabela 1 - Cálculos para obter o valor a ser pago

            O valor final, ou montante a ser pago, é R$ 680,00.

            Juro é a diferença entre o que você  irá pagar e o valor do empréstimo, ou seja: 

                                                   Juro = valor final  - valor inicial

                      


 CONCLUSÃO


Você pegou um empréstimo de R$ 500,00, por 12 meses, com uma taxa de juros de 3% ao mês. O montante pago foi R$ 680,00, ou seja, R$ 180,00 de juros.

                                                Fórmula para o cálculo

Podemos chegar a esses mesmos resultados de forma mais fácil, incorporando o tempo do empréstimo na fórmula dos juros. Se a taxa nominal de juros é ao mês, para obter os juros cobrados em um ano de empréstimo (“t” na fórmula), basta calcular:


🔴 Problema

Lembre-se: você pediu, no Ano Novo, um empréstimo de R$ 500,00 ao seu sogro, que cobra uma taxa de juros de 3% ao mês. Você deseja o empréstimo por um ano. Quanto de juros você vai pagar, desta vez?

Primeiro, converta a taxa de juros para decimal: TNJ = 0,03. Agora, calcule:


 CONCLUSÃO


Você pegou um empréstimo de R$ 500,00, por 12 meses, com uma taxa de juros de 3% ao mês. O montante pago foi R$ 680,00, ou seja, R$ 180,00 de juros.

                                       O que é inflação?

Em uma operação financeira, a taxa contratada ou declarada é a taxa nominal. Mas, para saber se houve ganho ou perda financeira, é necessário considerar a inflação no período.

Inflação é um aumento generalizado e persistente dos preços. Esse fenômeno representa a perda do poder de compra da moeda, tornando produtos e serviços mais caros ao longo do tempo.

                                                       Exemplo

Se uma pessoa ganha R$ 2.500,00 e, ao longo de seis meses, os preços sobem devido à inflação, esse mesmo salário não permitirá mais a compra dos mesmos bens e serviços.

                                               Causas da inflação

·        Aumento da demanda por bens e serviços (inflação de demanda).

·        Diminuição da oferta de bens e serviços (inflação de custos).

·        Expectativas de inflação.

                               Como a inflação bate no seu bolso?

O real de hoje não é o mesmo real de 1º de julho de 1994, quando foi adotado como moeda corrente no Brasil.

Mesmo que dois valores sejam expressos em reais, não significa que tenham o mesmo poder de compra. Um real em 1994 comprava mais do que um real hoje. Assim, valores monetários de diferentes períodos precisam ser corrigidos pela inflação.

Em vez de calcular apenas a taxa nominal de juros, é necessário considerar a taxa real de juros, que leva em conta a inflação do período: 

                        🔴 PROBLEMA                          

          Você pegou R$ 100,00 emprestados de um amigo e, no final de um mês, pagou. Foram 

           R$ 107,00. Seu amigo realmente teve lucro? 

Se a inflação no mês foi zero, seu amigo ganhou dinheiro. Mas se a inflação foi 20%, ele perdeu poder de compra.

A taxa nominal de juros foi 7% ao mês (TNJ = 0,07). Se a inflação foi 2% (0,02), então:


  CONCLUSÃO      

Existe ganho real quando a taxa nominal de juros é maior que a inflação. Seu amigo ganhou dinheiro ao emprestar para você.

                                                Como se mede a inflação?

A inflação é medida por índices de preços, calculados a partir da variação dos preços de bens e serviços. 

Os principais índices no Brasil são:

·     IPCA (IBGE) - Principal indicador da inflação oficial.

·     INPC (IBGE) - Inflação para famílias de baixa renda.

·     IGP (FGV) - Muito usado para reajuste de contratos.

·     IPC (FIPE) - Mede o custo de vida em São Paulo.

                                             Sobra dinheiro?  

Bancos e corretoras classificam investidores em perfis como conservador, moderado, arrojado ou agressivo. Essa categorização, conhecida como suitability, ajuda as instituições a recomendar produtos de investimento mais adequados a cada perfil. Mas mesmo com essa tentativa de personalização, erros podem acontecer. 

 Então, cuide bem do seu dinheiro (eu, sinceramente, não sou especialista nisso). Só não caia na ilusão de encontrar uma "árvore do dinheiro" — esse símbolo de crescimento financeiro e multiplicação da riqueza. E, claro, evite extremos: nem guarde tudo no cofrinho de porquinho, nem arrisque tudo de uma vez. Afinal, no fim do mês, é melhor sobrar dinheiro do que sobrar mês sem dinheiro.