Friday, December 13, 2013
Saturday, November 02, 2013
Entrevista como método de pesquisa qualitativa
O levantamento de
informações para uma pesquisa qualitativa pode ser feito por entrevista em profundidade. Isso é feito
em conversa face a face, do entrevistador
(que pode ser o pesquisador principal ou alguém por ele treinado) com seu entrevistado (o participante de pesquisa).
O entrevistador deve
ser capaz de encorajar as pessoas a se expressar longamente e saber ficar
calado. Não deve interferir na fala do entrevistado – seja por palavras, por
expressão facial ou por gestos. O entrevistado é quem deve discorrer sobre suas
crenças, opiniões, idéias, juízos, medos, atitudes que tomou ou acontecimentos que
presenciou.
é uma busca; o objetivo é explorar
um tema em detalhe.
Para começar a
entrevista, podem ser feitas uma ou duas perguntas.
São permitidas outras perguntas, mas apenas para obter esclarecimentos sobre
eventuais dúvidas a respeito do que disse o entrevistado. O entrevistador
precisa ser interativo e entender a linguagem do entrevistado. Se perguntado, o
entrevistador deve dizer que as perguntas serão respondidas no final da
entrevista – e isso tem de ser feito, usando palavras em nível de compreensão
do entrevistado. Mas o entrevistador não pode expor opiniões nem influenciar na
resposta.
São comuns alguns
percalços: o entrevistado pode ser muito tímido ou ficar constrangido com
algumas perguntas; o entrevistador pode, impensadamente, responder uma pergunta
e contaminar a resposta de quem entrevista; o entrevistado pode ser
interrompido por pessoas ao seu derredor ou parar a entrevista para atender ao
celular. De qualquer modo, é sempre recomendável gravar as entrevistas, que
depois devem ser transcritas para análise. Mas transcrição toma tempo. Então o
pesquisador deve estar preparado não só para entrevistar como também para
transcrever a entrevista. E se tiver secretária para esse serviço, terá que conferir
a transcrição. Mas há pessoas que não aceitam gravar a entrevista. Nesses
casos, é preciso fazer anotações.
Dependendo do
assunto, pode ser difícil achar respondentes. Se o pesquisador pretende
entrevistar pessoas que pertencem a uma instituição – como escolas, asilos,
prisões – é preciso pedir permissão para o responsável pela instituição, não só
para entrar na instituição como também recrutar pessoas para a pesquisa. E as características
pessoais do entrevistador – como classe social, sexo, raça, profissão, maneira
de se vestir – têm efeito sobre o resultado da entrevista. No entanto, é
preciso entrevistar porque existem informações que só podem ser obtidas
conversando com as pessoas que se dispuserem a falar.
Onde achar quem aceite responder? |
Dependendo do
assunto, pode ser difícil achar respondentes. Se o pesquisador pretende
entrevistar pessoas que pertencem a uma instituição – como escolas, asilos,
prisões – é preciso pedir permissão para o responsável pela instituição, não só
para entrar na instituição como também recrutar pessoas para a pesquisa. E as características
pessoais do entrevistador – como classe social, sexo, raça, profissão, maneira
de se vestir – têm efeito sobre o resultado da entrevista. No entanto, é
preciso entrevistar porque existem informações que só podem ser obtidas
conversando com as pessoas que se dispuserem a falar.
A entrevista em
profundidade é um processo de pesquisa demorado e pode ser caro, dependendo da
qualificação exigida do entrevistador, da quantidade de informações que se
espera obter e do número de participantes. Por esta razão, o tamanho da amostra
fica, em muito, por conta de fatores como profundidade, capacidade de
interlocução dos entrevistados, tempo e custo da entrevista. Como a
representatividade estatística não é buscada na pesquisa qualitativa, o número
de entrevistados raramente é posto em discussão.
As entrevistas
qualitativas também podem ser semi-estruturadas
– algo que se entende como intermediário entre a pesquisa qualitativa e o
questionário. As questões são abertas e
o entrevistador pode até utilizar um roteiro, mas precisa deixar o respondente
livre para falar. Entrevistador e entrevistado podem explorar mais longamente
os pontos que considerarem importantes, mas o entrevistador precisa ser
sensível à linguagem do entrevistado e não pode, de forma alguma, influenciar
as respostas.
Finalmente, cabe
lembrar que as entrevistas feitas por meio de questionários, com muitas
perguntas que têm opções de resposta, são pesquisas
quantitativas porque têm números para análise – e não texto 1.
1 Veja:
Vieira, Sonia. Como elaborar questionários. São Paulo,
Atlas
Tuesday, August 20, 2013
ESTATÍSTICA
Talvez você pense na Estatística apenas como “disciplina
obrigatória” em seu curso. Mas a Estatística é a ponte entre o que se observa,
mede, pesa, anota e classifica e o saber universal, Os métodos estatísticos são
aplicados em áreas tão diversas como engenharia, marketing, negócios, economia,
psicologia, saúde pública, esportes, sociologia, astronomia, biologia,
educação, genética, medicina.
Embora alguns pensem na Estatística como um ramo da Matemática, é
melhor pensar nela como uma disciplina que se baseia na Matemática e que ajuda
na tomada de decisão em condições de incerteza, usando a teoria da
probabilidade. Considere, por exemplo, as estatísticas de trânsito. Elas são
úteis para organizar o policiamento. Nos pontos das estradas em que as
estatísticas indicam maior número de acidentes, a velocidade é limitada pelos
policiais rodoviários e nos horários de pico destacam-se mais policiais para as
áreas de maior risco.
Em linhas gerais, Estatística é o conjunto de métodos usados para
coletar, organizar e analisar informações numéricas. Então, se um jornal quiser
saber a aprovação ao governo ou a popularidade da Presidente da República, deve
contratar um instituto de pesquisa para coletar, organizar e analisar a opinião
das pessoas. A maneira de coletar os dados é fundamental para que a informação
seja de confiança. E os dados precisam ser bem analisados, para que as
informações cheguem corretas ao jornal.
Mas você não deve pensar que a Estatística se resume ao
levantamento de dados existentes e à apresentação deles em tabelas e gráficos,
embora esta seja, sem dúvida alguma, parte importante da Estatística
Descritiva. Dados apresentados em tabelas e gráficos permitem calcular médias e
porcentagens, que são extremamente úteis para a tomada de decisão.
Também faz parte da Estatística Descritiva o cálculo de taxas,
índices e coeficientes. Esses conceitos, embora estatísticos, são aplicados em
Economia, em Educação, em
Medicina. Afinal , você já ouviu falar em índice de inflação,
em taxa de evasão escolar, em taxa de mortalidade infantil.
Mas os estatísticos trabalham, também, no planejamento de
experimentos. Será que colocar adubo no solo faz a planta crescer mais? Será
que as vitaminas retardam o envelhecimento? Será que as crianças que aprendem a
usar computador ficam mais inteligentes? Bem, para obter as respostas é preciso
experimentar. E o estatístico entra nessa história para planejar o experimento,
analisar os dados e ajudar na interpretação.
A grande importância da Estatística está, portanto, em seu vasto
campo de aplicação. Os cálculos foram, por muito tempo, o grande obstáculo para
a aplicação de Estatística. Esse obstáculo praticamente desapareceu, devido à
popularização dos computadores. No entanto, existem pessoas que têm
computadores – e não gostam de números. Vamos ser amigos dos números, ou seja,
vamos à Estatística!
Friday, August 09, 2013
O que é qualidade de produtos e serviços?
Melhoria na qualidade de produtos e serviços é o elemento chave para aumentar a produtividade e diminuir os custos. Mas o que é, exatamente, qualidade? As pessoas têm conceitos diferentes sobre qualidade. Alguns dicionários registram qualidade como o grau de excelência, mas o fato é que produtos e serviços devem ter qualidade para satisfazer as exigências dos consumidores. É consumidor quem compra para usar, seja um automóvel ou uma caixa de fósforos. Também é consumidor quem compra no atacado para vender no varejo, quem compra matéria-prima para transformar em produto. Consomem-se, também, serviços. Portanto, é consumidor quem compra uma entrada de teatro, um bilhete de metrô, um tratamento odontológico.
O consumidor percebe a
qualidade de produtos e serviços por característicos que dependem do tipo de
produto. Garvin (1987) considera que o consumidor julga a qualidade de um
produto por característicos de:
Desempenho (o produto faz o que a propaganda promete?):
Consumidores em potencial analisam o desempenho do produto para verificar se
confere com o que lhes foi dito, na propaganda ou por vendedores. Por exemplo,
o consumidor verifica: o automóvel realmente não tem ruídos internos?
Confiabilidade (quão freqüentemente o produto falha?): Produtos
que têm certa complexidade demandam reparos durante sua vida útil. Mas com que
freqüência? Uma motocicleta exige, ocasionalmente, reparos, mas se esses
reparos forem muito freqüentes a motocicleta não é confiável.
Durabilidade (quanto tempo o produto vai durar?): Os
consumidores buscam produtos duráveis. Quem compra um esmalte para pintar o
portão de sua casa, quer um produto resistente às agressões do tempo, ou seja,
durável.
Estética (o produto é bonito?): o apelo visual é levado em conta em
muitos produtos. Fatores como estilo, forma, cor, maleabilidade são
considerados na compra de roupas e fatores como cor e embalagem na compra de
uma bolacha.
Acréscimos (o produto oferece vantagens?): os consumidores
em geral associam qualidade aos produtos que apresentam mais característicos do
que os concorrentes. Logo, uma lanchonete que ofereça um brinde, além de
lanches, pode ver aumentada sua clientela.
História de qualidade (qual é a reputação do produto?): Os consumidores
contam com a própria experiência para julgar qualidade ou em informação que
lhes pareça confiável. Então, quem regularmente faz viagens por uma companhia
aérea que tem preços acessíveis, cumpre o horário, não perde nem danifica a
bagagem, não tem porque trocar essa companhia pela concorrente.
Conformidade com a especificação (o produto foi feito como
manda o padrão?): o produto tem qualidade quando está de acordo com a
especificação. Por exemplo, os pneus novos se ajustam adequadamente à bicicleta?
A Sociedade Americana
para Qualidade define qualidade como: 1) os característicos de um produto ou
serviço que têm a capacidade de satisfazer necessidades explícitas ou
implícitas dos consumidores ou 2) um produto ou serviço sem deficiências. Juran
conceituou qualidade como adequação para o uso e Crosby escreveu que qualidade
é conformação com as especificações. Deming considerou que boa qualidade
significa grau previsível de uniformidade e Montgomery enfatizou que qualidade
é inversamente proporcional à variabilidade. A ISO 9000 coloca o seguinte: a
qualidade de qualquer coisa pode ser determinada pela comparação de um conjunto
de característicos que lhe são inerentes com um conjunto de especificações. Se
os característicos inerentes atendem todas as especificações, o produto ou
serviço tem alta qualidade. Se esses característicos não atendem todas as
especificações, o nível de qualidade alcançado é pequeno.
As especificações são
dadas em documentos que definem as exigências que devem ser, obrigatoriamente,
satisfeitas. Conformidade é o
atendimento às especificações. Não
conformidade é o fracasso em atender às especificações. O produto que não
atende às especificações é dito não conforme e um tipo específico de falha é
chamado de não-conformidade. O produto não conforme não é, necessariamente,
inadequado para o uso. Por exemplo, um sabonete pode ter menor quantidade de
perfume do que o limite inferior de especificação, mas, mesmo assim, ser
adequado para uso. Mas a especificação de um característico crítico de
qualidade tanto pode ser feita por classificação como por medição.
Quando medir um
característico de qualidade é impraticável ou não é possível, os itens
produzidos são classificados em categorias. A avaliação por classificação é
rápida e fácil. Assim, uma lâmpada deve acender e apagar, uma fechadura deve
abrir e fechar. Dizemos então que o característico de qualidade é um atributo.
A avaliação por medição é
mais demorada, mas também é mais precisa. Por exemplo, medir o diâmetro de um
eixo é mais preciso do que classificar o eixo pelo fato de passar ou não por um
calibre. Dizemos, quando é feita a medição, que o característico de qualidade é
uma variável. No caso de variáveis, a especificação estabelece o valor nominal,
isto é, a dimensão desejada e os limites em que essa dimensão pode variar. O
valor nominal é indicado por VN, o limite superior de especificação é indicado
por LSE e o limite inferior de especificação por LIE. A diferença entre o
limite superior de especificação e o limite inferior de especificação é a
tolerância do projeto. A tolerância é, portanto, um desvio indesejável, porém
aceitável, da dimensão desejada. Por exemplo, especificar o diâmetro de um eixo
como igual a 20,00 mm, mas considerar aceitáveis diâmetros na faixa de 19,95 a
20,05 mm corresponde à especificação 20,00±0,05mm, ou seja, à tolerância de
20,05 – 19,95 = 0,10 mm
Importante é saber que
embora todo fabricante e todo prestador de serviços tenha a intenção de
fabricar produtos ou prestar serviços que cumpram as especificações, isso não
acontece. A razão e a variabilidade. A variabilidade dos característicos de
qualidade não pode ser eliminada, mas pode ser conhecida e controlada. No
entanto, a variabilidade só pode ser descrita em termos estatísticos. Por essa razão,
a Estatística tem enorme importância nos esforços que são feitos para a
melhoria da qualidade. O Controle
Estatístico do Processo (CEP) é um método estatístico para monitorar e
controlar o processo, garantindo assim menor quantidade de perdas e retrabalho.
Tuesday, July 16, 2013
Biodisponibilidade: a área sob a curva de concentração
A área sob a curva de concentração (area under the concentration curve), que se indica por ASC (em inglês, AUC) é um dos principais parâmetros farmacocinéticos. Existem diversos métodos para estimar a ASC, mas o método dos trapézios (trapezoidal rule) apresentado em seguida, embora seja apenas uma aproximação, é o mais simples.
Método dos trapézios para obter a ASC
Sejam 0, t1, t2, . . . , tk os tempos em que foram tomadas amostras de sangue do voluntário e sejam C0, C1, C2,..., Ck as concentrações da droga medidas no sangue. A área sob a curva, desde o tempo zero até o tempo tk em que foi tomada a k-ésima (última) medida da concentração, é indicada por ASC(0 - tk) e obtida da seguinte maneira:
· Baixam-se segmentos de reta paralelos à ordenada, dos pontos do gráfico até a abscissa; formam-se assim um triângulo e diversos trapézios;
· Calculam-se as áreas dessas figuras;
· Somam-se os valores das áreas, obtendo assim a área sob a curva de concentração.
Exemplo
Com os dados do exemplo já apresentado na postagem "Biodisponibilidade: parâmetros farmacocinéticos", foi desenhada a curva da concentração da droga em função do tempo. Veja agora a reapresentação dessa curva, depois de baixados os segmentos de reta de cada ponto do gráfico até a abscissa, em paralelo com a ordenada. Há primeiro um triângulo e depois vários trapézios. Lembre-se de que a área de um trapézio é dada por:
Agora, note o trapézio apoiado na abscissa,
com valores entre 1 hora e 2 horas. Esse trapézio foi desenhado embaixo da
curva e depois, na sequência, girado para que o leitor mais bem visualize o
cálculo da área. Temos:
· a base maior (vermelho) é a ordenada da concentração no tempo 2, ou seja, C2 = 205,4;
· a base menor (azul)é a ordenada da concentração no tempo 1, ou seja, C1 =76,8;
· a altura (preto) é o intervalo de tempo entre 1 e 2 horas. Logo t =1.
A área do trapézio destacado é:
As áreas do triângulo e dos demais trapézios formados por dois tempos consecutivos de coleta e suas respectivas concentrações estão na tabela abaixo.
A fórmula para obter a área sob a curva desde zero até o tempo tk é:
Se a k- ésima medida Ck (última) de concentração da droga em seu lugar de ação for diferente de zero, pode haver interesse em estimar a área sob a curva de concentração até o tempo de completa eliminação da droga.
Essa área, chamada curva de concentração da droga de zero até o infinito, é indicada por ASC (0-∞) e pode ser estimada como segue:
Para estimar l, é preciso pressupor que a concentração medida nos quatro (ou seis, se houver) últimos tempos decresce segundo uma exponencial, isto é, segundo a curva:
Exemplo
A exponencial ajustada aos quatro últimos pares de dados que se seguem, do exemplo, é
Ŷ = 596,19 e-0,7298t
A taxa de eliminação constante da droga é (l)= 0,7298 e a área sob a curva de concentração da droga de zero até o infinito é:
A porção remanescente da área de tk ao infinito pode ser relativamente grande se a concentração da droga no sangue for grande no instante tk. A área sob a curva do tempo zero ao tempo tk deve ser, então, igual ou superior a 80% da área sob a curva de zero a infinito, de acordo com a legislação brasileira. Para o exemplo,
0,8 x 376,7024 = 301,3619 < 363
Em geral, a preocupação é com a extensão da absorção (ou seja, com a fração da quantidade administrada que chega à corrente sanguínea), pois essa é a dose efetiva da droga, quase sempre menor do que a quantidade administrada. Em casos agudos, porém, a velocidade da absorção também preocupa.
Veja:
CHOW, S. C., LIU, J.L. Design and analysis of bioavailability and bioequivalence studies. New York: Marcel Dekker, 2000.
Saturday, June 22, 2013
Biodisponibilidade:parâmetros farmacocinéticos
1. Definições
Biodisponibilidade (bioavailability) é um termo usado em farmacocinética para descrever a quantidade e a velocidade com que uma droga, ou outra substância, fica disponível em seu lugar de ação depois de ter sido administrada em dose única.
Como nem sempre é possível medir a concentração da droga em seu lugar de ação, monitora-se a concentração da droga no sangue ou na urina. O pressuposto é o de que a concentração da droga em seu lugar de ação fica em equilíbrio com a concentração da droga no sangue ou na urina.
Para entender todo esse processo, são conduzidos ensaios nos quais se estabelecem a dosagem, a via de administração e a forma farmacêutica (comprimido, cápsula, pó, solução ou suspensão) da droga, além dos intervalos de tempo em que serão feitas as medições. Se o ensaio for feito com seres humanos, é preciso recrutar voluntários seguindo as normas da CONEP-CNS-MS e os critérios de elegibilidade, dados pela ANVISA.
2. Análise estatística dos dados
Determinar a biodisponibilidade de uma droga, na prática, significa calcular em que quantidade e quão depressa essa droga aparece no sangue (ou na urina) do participante de pesquisa, depois de administrada em dose única.
Para isso, são tomadas diversas amostras de sangue (ou na urina) do mesmo voluntário – uma imediatamente antes da administração da droga e as demais em intervalos de tempo pré-estabelecidos – para nelas medir a concentração da droga
É usual indicar a dose administrada da droga (loading dose) por D. As concentrações da droga no sangue ou na urina são medidas em microgramas por mililitro. O intervalo de tempo em que são feitas as medições (dosing interval) é indicado pela letra grega t (lê-se tau) e a unidade de medida é, usualmente, hora.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Exemplo
Veja os dados (fictícios) apresentados abaixo.
Tabela 1. Tempo após a administração da droga (em horas) e concentração da droga no sangue (em microgramas por mililitro) de um voluntário
Tempo |
Concentração |
(em horas) |
(em µ/ml) |
0 |
0 |
1 |
78 |
2 |
206 |
3 |
54 |
4 |
20 |
6 |
10 |
Com os pares de dados obtidos – tempo em que foi tomada cada amostra de sangue e concentração da droga na amostra de sangue – desenha-se a curva da concentração da droga em função do tempo. Veja a figura abaixo.
Figura 1. Curva de concentração da droga no
sangue de um voluntário
2.1. Parâmetros farmacocinéticos
Três importantes parâmetros farmacocinéticos são obtidos diretamente da curva de concentração da droga no sangue (ou na urina).
- Concentração máxima (Cmáx)
- Tempo para atingir a concentração máxima (Tmáx)
- Área sob a curva de concentração (ASC).
Concentração máxima (maximum concentration) é o pico da concentração da droga em lugar especificado, antes da administração de uma segunda dose. Indica-se a concentração máxima por Cmax.
Cmax = max { C0, C1, . . ., Ck }
Tempo para atingir a concentração máxima é o tempo que a droga demora para atingir a concentração máxima. No gráfico, é a abscissa do ponto que corresponde à concentração máxima. Indica-se por Tmáx.
Na prática, a concentração máxima (Cmax.) e o tempo para atingir essa concentração (Tmáx ) são obtidos dos dados coletados.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Exemplo
No caso do exemplo apresentado na Tabela 1:
Tabela 2. Concentração máxima e tempo para
atingir a concentração máxima
Tempo |
Concentração |
(em horas) |
(em µ/ml) |
0 |
0 |
1 |
78 |
2 |
206 |
3 |
54 |
4 |
20 |
6 |
10 |
Cmax = 205,4 mg/mL
Tmáx = 2 horas
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Área sob a curva de concentração (area under the concentration curve), que se indica por ASC (em inglês, AUC) é um dos principais parâmetros farmacocinéticos. Existem diversos métodos para estimar a ASC, mas o método dos trapézios (trapezoidal rule) apresentado em seguida, embora seja apenas uma aproximação, é o mais simples.
2.2 Método dos trapézios para obter a ASC até tk
Sejam t0, t1, t2, …, tk os tempos em que foram tomadas as amostras de sangue do voluntário e sejam C0, C1, C2, …, Ck as concentrações da droga medidas no sangue.
Tabela 3. Tempo após a administração da droga
(em horas) e concentração da droga no sangue
(em microgramas por mililitro) de um voluntário
Tempo |
Concentração |
(em horas) |
(em µ/ml) |
t0 |
C0 |
t1 |
C1 |
t2 |
C2 |
. . . |
. . . |
tk |
Ck |
A área sob a curva, que abrange toda a figura – desde a primeira medição feita no tempo (t0) até a última, feita no tempo (tk), é indicada por ASC(0 - tk) e obtida da seguinte maneira:
a) Dos pontos do gráfico, trace segmentos de reta paralelos à ordenada (eixo dos Y) até a abscissa (eixo dos X);
Figura 2. Gráfico auxiliar para cálculo da ASC
b) Observe: formaram-se um triângulo e vários trapézios. Calcule a área dessas figuras;
c) Some as áreas calculadas para obter a área sob a curva de concentração (ASC).
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Exemplo
Vamos obter a área sob a curva da concentração (ASC) com os dados do exemplo já apresentado.. Observe a Figura 2, onde foram baixados os segmentos de reta de cada ponto do gráfico até a abscissa: há primeiro um triângulo e depois vários trapézios.
A fórmula para achar a área do triângulo é:
A fórmula para achar a área do trapézio é:
Veja novamente a curva, refeita na figura abaixo. Temos, sob a curva, cinco trapézios. Note o primeiro trapézio, apoiado na abscissa com valores entre 1 hora e 2 horas. Esse trapézio foi redesenhado abaixo da curva e depois girado, para que você mais bem visualize o cálculo da área. Temos:
a base maior (em vermelho) é a ordenada da concentração no tempo 2, ou seja, C2 = 206;
a base menor (em azul) é a ordenada da concentração no tempo 1, ou seja, C1 =78;
a altura (em preto) é o intervalo de tempo entre 1 e 2 horas. Logo t =1.
Figura 3. Gráfico auxiliar para cálculo da ASC
A área do primeiro trapézio é:
As áreas, do triângulo e dos demais trapézios, formados por dois tempos consecutivos de coleta e suas respectivas concentrações estão na tabela abaixo.
Tabela 4. Cálculos auxiliares para obter a ASC
Tempo Concentração Área
(em horas) (em µg/ml) (em µg/ml)xh
0 0 _
1 78 39
2 206 142
3 54 130
4 20 37
6 10 30
Total 378
〖ASC〗_((0-6))=39+142+130+37+30=378
A fórmula para obter a área sob a curva desde zero até o tempo tk é:
4.2 Curva de concentração da droga de zero até o infinito
Se a concentração da droga em seu lugar de ação na k- ésima medição (última), que indicamos por Ck for diferente de zero, pode haver interesse em estimar a área sob a curva de concentração da droga até a completa eliminação.
Essa área, chamada curva de concentração da droga de zero até o infinito, é indicada por ASC (0-∞) e pode ser estimada como segue:
〖ASC〗_(0-∞)=〖ASC〗_(0-t)+C_k/λ
em que Ck é a k-ésima medida (última) de concentração da droga em seu lugar de ação e lambda (λ) é a taxa de eliminação constante da droga.
Para estimar taxa de eliminação constante da droga, que indicamos por l (lambda), é preciso pressupor que a concentração medida nos quatro (ou seis, se houver) últimos tempos decresce segundo uma exponencial, isto é, segundo a curva:
Exemplo
A exponencial ajustada aos quatro últimos pares de dados do exemplo, é
Ŷ = 596,19 e-0,7298t
Tabela 5 oncentração da droga nos s quatro últimos tempos de medição
Tempo Concentração
(em horas) (em µg/mL)
2 206
3 54
4 20
6 10
Figura 4. Exponencial ajustada à concentração da droga nos s quatro últimos tempos de medição
A taxa de eliminação constante da droga é λ = 0,7298 e a área sob a curva de concentração da droga de zero até o infinito é:
〖ASC〗_(0-∞))=378+ 10/0,7298=391,7024
Se a concentração da droga no sangue for grande no instante tk, que é o momento da última medição da concentração da droga no sangue (ou na urina), a área de tk ao infinito pode ser relativamente grande. Isto não é aceitável. De acordo com a legislação brasileira, a área sob a curva do tempo zero ao tempo tk deve ser igual ou superior a 80% da área sob a curva de zero a infinito.
Em geral, a preocupação é com a extensão da absorção (ou seja, com a fração da quantidade administrada que chega à corrente sanguínea). Essa é a dose efetiva da droga, quase sempre menor do que a quantidade administrada. Em casos agudos, porém, a velocidade da absorção também preocupa.
Referências
1 Conceitos de farmacocinética constam nos itens II. 2 - e, f da Resolução 251/97-CNS/MS (inciso II. 1).
2 Veja a Resolução nº 896 da ANVISA, de 29 de maio de 2003.
3 CHOW, S. C., LIU, J.L. Design and analysis of bioavailability and bioequivalence studies. New York: Marcel Dekker, 2000.
4 Maximum concentration | definition of maximum ...
medical-dictionary.thefreedictionary.com/maximum.
Biodisponibilidade
(bioavailability) é um
termo usado em farmacocinética para descrever a quantidade e a velocidade com que uma droga ou outra substância fica
disponível em seu lugar de ação depois de ter sido administrada, em dose única.
Mas
nem sempre é possível medir a concentração da droga em seu lugar de ação. Por essa razão, a concentração da droga é
monitorada no sangue ou na urina. O
pressuposto é o de que a concentração da droga em seu lugar de ação está em equilíbrio com a concentração da droga no
sangue ou na urina.
São
então conduzidos ensaios nos quais se pré-estabelecem dosagem, via de
administração e forma farmacêutica (comprimido, cápsula, pó, solução ou
suspensão) da droga, além dos intervalos de tempo em que serão feitas as
medições. Se o ensaio for feito com seres humanos, é preciso recrutar
voluntários seguindo as normas da CONEP-CNS- MS1 e os critérios de
elegibilidade, dados pela ANVISA2.
Análise
estatística dos dados
Determinar a
biodisponibilidade de uma droga, na prática, significa calcular em que quantidade e quão depressa
essa droga aparece no sangue (ou na urina) do participante de pesquisa, depois
de administrada em dose única.
Para
isso, são tomadas diversas amostras de sangue (ou na urina) do mesmo voluntário – uma imediatamente antes da
administração da droga e as demais nos intervalos de tempo pré-estabelecidos. A concentração da droga no sangue (ou na urina) é medida em cada tempo.
É
usual indicar a dose administrada da droga (loading
dose) por D e medir as
concentrações da droga no sangue ou na urina em microgramas por mililitro. O
intervalo de tempo (dosing
interval) em que são feitas as medições é indicado pela letra
grega t (lê-se tau) e a unidade de medida é,
usualmente, hora.
Exemplo
Para bem entender o procedimento de cálculo, veja os dados (fictícios) apresentados na tabela abaixo.
Tempo (em horas)
após a administração da droga a um voluntário e a concentração (em microgramas por mililitro)
da droga no sangue
Com os pares de dados obtidos – tempo em que foi tomada cada amostra de sangue e concentração da
droga nessa amostra de sangue – desenha-se a curva da concentração da droga em
função do tempo. Veja a figura abaixo.
Três importantes parâmetros
farmacocinéticos são obtidos diretamente da curva de concentração da droga no
sangue (ou na urina).
§ Concentração máxima (Cmáx)
§ Tempo para atingir a concentração
máxima (Tmáx)
§ Área sob
a curva de concentração (ASC).
Concentração
máxima (maximum concentration) é
o pico da concentração que uma droga
atinge em lugar especificado depois de administrada e antes da administração de
uma segunda dose. Indica-se a concentração máxima por Cmax.
Cmax = max { C0, C1, . . ., Ck }
Tempo
para atingir a concentração máxima
é
o tempo que a droga demora em atingir a concentração máxima, ou seja, é a
abscissa do ponto que corresponde à concentração máxima. Indica-se por Tmáx.
Na
prática, obtém-se a concentração máxima e, consequentemente, o tempo para
atingir a concentração máxima, das próprias observações.
Exemplo
No caso do exemplo, tem-se que:
Cmax = 205,4 mg/mL
Tmáx = 2 horas
A
área
sob a curva de concentração (area
under the concentration curve), que se indica por ASC (em inglês, AUC) é um
dos principais parâmetros farmacocinéticos. Existem diversos métodos para
estimar a ASC, mas o método dos trapézios (trapezoidal rule) apresentado
em seguida, embora seja apenas uma aproximação, é o mais simples.
Método dos trapézios para obter a ASC
Sejam 0, t1,
t2, . . . , tk os tempos em
que foram tomadas amostras de sangue do voluntário e sejam C0, C1, C2,..., Ck as concentrações da droga medidas no sangue. A área sob a curva, desde o
tempo zero até o tempo tk em que foi tomada a k-ésima (última) medida da concentração, é indicada
por ASC(0 - tk) e obtida da seguinte maneira:
·
Baixam-se segmentos
de reta paralelos à ordenada, dos pontos do gráfico até a abscissa; formam-se
assim um triângulo e diversos trapézios;
·
Calculam-se as áreas
dessas figuras;
·
Somam-se os valores
das áreas, obtendo assim a área sob a curva de concentração.
Exemplo
Com os dados do exemplo já apresentado, foi
desenhada a curva
da concentração
da droga em
função do tempo. Veja agora a reapresentação
dessa curva, depois de baixados os
segmentos de reta de cada ponto do gráfico até a abscissa, em paralelo com a
ordenada. Há primeiro um triângulo e depois vários trapézios. Lembre-se de que
a área de um trapézio é dada por:
Agora, note o trapézio apoiado na abscissa,
com valores entre 1 hora e 2 horas. Esse trapézio foi desenhado embaixo da
curva e depois, na sequência, girado para que o leitor mais bem visualize o
cálculo da área. Temos:
·
a base
maior (vermelho) é a ordenada da concentração no tempo 2, ou seja, C2
= 205,4;
·
a base
menor (azul)é a ordenada da concentração no tempo 1, ou seja, C1 =76,8;
· a altura (preto) é o intervalo de tempo
entre 1 e 2 horas. Logo t =1.
A área do trapézio destacado é:
As áreas do triângulo e dos demais trapézios
formados por dois tempos consecutivos de coleta e suas respectivas
concentrações estão na tabela abaixo.
A fórmula para obter a área sob a curva
desde zero até o tempo tk é:
Se a k-
ésima medida Ck (última)
de concentração da droga em seu lugar
de ação for diferente de zero, pode haver
interesse em estimar a área sob a curva de concentração até o tempo de
completa eliminação da droga.
Essa
área, chamada curva de concentração da droga de zero até o infinito, é
indicada por ASC (0-∞) e pode ser estimada como segue:
Para
estimar l, é preciso pressupor que a concentração
medida nos quatro (ou seis, se houver) últimos tempos decresce segundo uma
exponencial, isto é, segundo a curva:
Exemplo
A exponencial ajustada aos quatro últimos pares de dados que se
seguem, do exemplo, é
Ŷ = 596,19 e-0,7298t
A taxa de eliminação
constante da droga é (l)= 0,7298 e a área sob a curva de concentração da droga de zero até o infinito é:
A
porção remanescente da área de tk ao infinito pode ser relativamente grande se a concentração da droga no
sangue for grande no instante tk.
A área
sob a curva do tempo zero ao tempo tk
deve ser, então, igual ou superior a 80% da área sob a curva de zero a
infinito, de acordo com a legislação brasileira. Para o exemplo,
0,8 x 376,7024 = 301,3619 < 363
Em geral, a preocupação é com a extensão da absorção (ou seja, com a
fração da quantidade administrada que chega à corrente sanguínea), pois essa é
a dose efetiva da droga, quase sempre menor do que a quantidade administrada.
Em casos agudos, porém, a velocidade da absorção também preocupa.
Referências
1 Conceitos de
farmacocinética constam nos itens II. 2 - e, f da Resolução 251/97-CNS/MS
(inciso II. 1).
2 Veja a Resolução nº
896 da ANVISA, de 29 de maio de 2003.
3 CHOW, S. C., LIU, J.L. Design and analysis of bioavailability and bioequivalence studies. New
York: Marcel Dekker, 2000.
medical-dictionary.thefreedictionary.com/maximum.
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