Thursday, August 02, 2012

Pesquisas de opinião

           

  Quando se fala em pesquisa, a maioria das pessoas pensa nas pesquisas feitas para aferir a intenção de votos, ou seja, nas prévias eleitorais exaustivamente anunciadas e discutidas nos períodos que antecedem qualquer eleição. Essas pesquisas sempre enfrentam questionamento. 


Muitos acham que a maioria dos eleitores não consegue ter opinião própria sobre os candidatos devido ao constante bombardeio das estatísticas. Segundo alguns, o cidadão comum vota no candidato com mais chance de vencer, ou seja, escolhe “votar certo”, ou “votar para ganhar”. A literatura da área já deu até nome para essa possibilidade: é o efeito bandwagon (que significa carro-chefe). 

 

  Há também quem argumente que alguns eleitores, francamente decepcionados com os políticos, votam no candidato com menor chance de vencer – para não ter responsabilidade no que der e vier. Seria o efeito underdog (que significa “lanterninha”). 

 

  Outros levantam a teoria do voto tático ou voto estratégico, conhecido no Brasil como “voto útil”. Essas pessoas acham que se o eleitor perceber, pelos resultados das pesquisas, que o candidato que rejeita deve vencer as eleições, vota no segundo colocado, para diminuir a chance de o candidato que rejeita. 

 

  Mas é bem provável que o eleitor brasileiro coloque a satisfação de suas necessidades básicas em primeiro lugar, na hora de escolher seu candidato1. Na expressão dos americanos para a maneira de, eles próprios, escolherem seus governantes, eleitores “votam com a mão no bolso”2 – e não com a cabeça ou o coração. 

 

  De qualquer forma, prévias eleitorais têm, hoje, confiabilidade e validade. É verdade que, no Brasil, houve vários erros antes da década de 90. Por exemplo, em 1974 houve eleições para senador da República. As prévias eleitorais mostravam muito mais votos para os candidatos do governo do que eles realmente receberam. Dada à ditadura militar da época, o erro possivelmente se explica pelo fato de as pessoas entrevistadas terem tido medo de dizer que pretendiam votar contra o governo. 

 

  Também ocorreram muitos erros nas prévias feitas por ocasião das eleições para as prefeituras das capitais, em 1985. Tais erros provavelmente se explicam pela grande quantidade de indecisos que apareciam em todas as prévias – talvez porque os candidatos não fossem muito conhecidos. Não tem sentido prever o resultado de uma eleição pressupondo que os votos dos indecisos e dos não querem opinar se distribuirão, pelos candidatos, da mesma forma como o daqueles que, por ocasião das prévias, já se decidiram. 

 

  Hoje, porém, a média de acerto dos quatro grandes institutos brasileiros de pesquisa (Datafolha, Ipec, Ipesp, Quaest) está em padrões internacionais: é superior a 90%3. Portanto, acredite nas pesquisas, mesmo sabendo que elas podem, eventualmente, estar erradas... 

 

           Referências

 

Almeida, C. A. A cabeça do eleitor. Rio de Janeiro: Record, 2008. 

 

Tradução livre da expressão “Americans vote with their wallets”. 

 

Haag, C. Meu reino por um ponto a mais. Pesquisa FAPESP. 127. Setembro de 2006.