Quando se fala em pesquisa, a maioria das pessoas pensa nas pesquisas feitas para aferir a intenção de votos, ou seja, nas prévias eleitorais exaustivamente anunciadas e discutidas nos períodos que antecedem qualquer eleição. Essas pesquisas sempre enfrentam questionamento.
Muitos acham que a
maioria dos eleitores não consegue ter opinião própria sobre os candidatos
devido ao constante bombardeio das estatísticas. Segundo alguns, o cidadão
comum vota no candidato com mais chance de vencer, ou seja, escolhe “votar certo”,
ou “votar para ganhar”. A literatura da área já deu até nome para essa
possibilidade: é o efeito bandwagon (que significa
carro-chefe).
Há também quem argumente
que alguns eleitores, francamente decepcionados com os políticos, votam no
candidato com menor chance de vencer – para não ter responsabilidade no que der
e vier. Seria o efeito underdog (que significa
“lanterninha”).
Outros levantam a teoria
do voto tático ou voto estratégico, conhecido no
Brasil como “voto útil”. Essas pessoas acham que se o eleitor perceber, pelos
resultados das pesquisas, que o candidato que rejeita deve vencer as eleições,
vota no segundo colocado, para diminuir a chance de o candidato que
rejeita.
Mas é bem provável que o
eleitor brasileiro coloque a satisfação de suas necessidades básicas em
primeiro lugar, na hora de escolher seu candidato1. Na expressão dos
americanos para a maneira de, eles próprios, escolherem seus governantes,
eleitores “votam com a mão no bolso”2 – e não com a cabeça ou o
coração.
De qualquer forma, prévias
eleitorais têm, hoje, confiabilidade e validade. É verdade que, no
Brasil, houve vários erros antes da década de 90. Por exemplo, em 1974 houve
eleições para senador da República. As prévias eleitorais mostravam muito mais
votos para os candidatos do governo do que eles realmente receberam. Dada à
ditadura militar da época, o erro possivelmente se explica pelo fato de as
pessoas entrevistadas terem tido medo de dizer que pretendiam votar contra o
governo.
Também ocorreram muitos
erros nas prévias feitas por ocasião das eleições para as prefeituras das
capitais, em 1985. Tais erros provavelmente se explicam pela grande quantidade
de indecisos que apareciam em todas as prévias – talvez porque os candidatos
não fossem muito conhecidos. Não tem sentido prever o resultado de uma eleição
pressupondo que os votos dos indecisos e dos não querem opinar se distribuirão,
pelos candidatos, da mesma forma como o daqueles que, por ocasião das prévias,
já se decidiram.
Hoje, porém, a média
de acerto dos quatro grandes institutos brasileiros de pesquisa (Datafolha, Ipec, Ipesp, Quaest) está em padrões internacionais: é superior a
90%3. Portanto, acredite nas pesquisas, mesmo sabendo que elas
podem, eventualmente, estar erradas...
Referências
Almeida, C.
A. A cabeça do eleitor. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Tradução
livre da expressão “Americans vote with their wallets”.
Haag, C.
Meu reino por um ponto a mais. Pesquisa FAPESP. 127. Setembro de 2006.