Uma análise de variância (ANOVA) pode indicar
se existe diferença significante entre grupos,
mas não informa quais grupos diferem entre si. A
ANOVA é, portanto, um teste global. Para identificar as diferenças específicas,
é necessário comparar as médias logo após o teste global.
Métodos usados para comparar médias depois de
uma ANOVA são chamados testes a posteriori ou post
hoc comparisons. Entre os testes mais conhecidos — e amplamente
disponíveis em pacotes de estatística — estão o teste de Tukey (já tratado em
postagem anterior) e o teste de Duncan,
que abordaremos aqui.
O teste de Duncan, conhecido na literatura em
língua inglesa como Duncan’s Multiple Range Test (MRT), é aplicado após uma ANOVA para identificar quais
pares de médias (em experimentos com pelo menos três
grupos) diferem estatisticamente. Diferentemente do teste de Tukey, ele
não realiza comparações apenas duas a duas: é um teste sequencial baseado em amplitudes
mínimas significantes.
Embora mais trabalhoso — exige calcular
diversas amplitudes mínimas — o teste de Duncan é muito utilizado. Vamos
mostrar seu funcionamento com um exemplo.
Exemplo
Considere os dados
fictícios de diminuição da pressão arterial apresentados na Tabela 1.
Esses dados foram submetidos à ANOVA, cujos resultados estão na Tabela 2. Como
o valor de F foi significativo ao nível de 5%, podemos concluir que existe pelo
menos uma média diferente das demais. As médias amostrais estão na Tabela 3.
Tabela 1 – Diminuição da pressão arterial (mmHg)
segundo o grupo
Tabela 2 – Resultado da análise de variância (ANOVA)
Tabela 3 – Médias de diminuição da pressão arterial (mmHg)
segundo o grupo
Pergunta: Quais médias são estatisticamente diferentes?
Para responder, aplicamos o teste de Duncan.
Antes, vamos entender sua lógica.
Como
Funciona o Teste de Duncan
O teste de Duncan compara a amplitude (diferença)
de conjuntos de médias amostrais ordenadas com uma amplitude
mínima significante calculada (Rm).
· Se a amplitude observada excede a amplitude mínima calculada, considera-se que
as médias populacionais são diferentes ao nível
de significância escolhido.
· O teste é passo a
passo ou sequencial (stepwise): inicia-se pela comparação entre a
maior e a menor média. Se a diferença for significativa, seguem-se as
comparações entre as médias mais próximas.
Se, em algum ponto, uma diferença não
for significativa, as comparações subsequentes não são realizadas.
Etapas do
Teste
1. Ordenar as médias em ordem decrescente (ou
crescente).
Tabela 4 – Médias ordenadas (diminuição da pressão arterial, mmHg)
2. Calcular a amplitude mínima significante (Rm) para cada número de médias envolvidas (m). A fórmula é
Onde:
· rm= valor crítico da amplitude mínima
estudentizada (least significant studentized range), encontrado em
tabelas específicas;
· QMR = quadrado médio do resíduo da ANOVA;
· r = número de repetições por grupo.
Aplicação ao Exemplo
· Número de médias: k = 6
· QMR=36,00 (Tabela 2)
· r = 5 (Tabela 1)
· Graus de liberdade do resíduo = 24
· Para m = 6, segue-se rm = 3,276.
· Diferença entre D e Controle: diferença = 29 –
2 = 27
· Rm para 6 médias:
Comparações
seguintes:
Para m
= 5:
· Comparações: D e B (diferença = 21), A
e Controle (diferença = 19)
· r5 ≈ novo valor calculado
· Ambas diferenças significativas.
Para m
= 4:
· Comparações:
D e C (diferença = 19), A e B (diferença = 13), E e Controle (diferença = 11).
·
Todas
diferenças significativas.
Para m
= 3:
·
Comparações:
D e E (diferença = 16), A e C (diferença = 11)
·
Ambas
diferenças significativas.
· Comparações
E e B (diferença = 5) e C e Controle (diferença = 8) não são
significativas.
Assim, para conjuntos não significativos, não
se prossegue com comparações internas.
Para m=2
·
D e A (diferença
= 8), A e E (diferença = 8)
Apresentação Final dos Resultados
A apresentação usual em softwares de
estatística é:
Tabela 6 – Comparação de médias pelo teste de Duncan
Nota: Médias que compartilham a mesma letra
não diferem significativamente.
Observação Final
Se os grupos forem de tamanhos diferentes, substitua r pela média harmônica dos
tamanhos dos grupos no cálculo de Rm.
2 comments:
Olá Sônia, tenho aprendido bastante com suas explicações, entretanto, surgem algumas dúvidas referente ao tipos de testes.
Quando meus dados não apresentam distribuição normal e quero comparar a diferença de apenas dois conjuntos de amostras, posso utilizar o teste Wilcoxon. Entretanto ele não me diz qual conjunto de amostras é a melhor. Dando continuidade aos estudos desse conjunto de dados, gostaria de saber qual teste substituiria o teste de Tukey, quando meus dados são não-paramétricos e possua apenas dois conjuntos de dados.
Obrigado e parabéns pelas publicações.
Anderson.
Olá, Anderson. Para comparar dois grupos, quando a variável em análise não tem distribuição normal, aplique o teste de Mann-Whitney, se os grupos são independentes e o teste de Wilcoxon, se os grupos são dependentes. Se o teste resultar significante, compare as médias dos postos. Atenção, dos postos, não dos dados.Veja a postagem sobre Kruskal Wallis.
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